Não discordamos acerca de qual o assunto na ordem de todos os últimos e novos dias. Mas vamos discordar no nome que lhe damos.

Não temos andado a discutir a Saúde. Temos andado a falar da Covid-19 e da pandemia a que deu origem.

Os ganhos no combate a esta pandemia foram tirados à força do esforço adicional que repetidamente foi oferecido pelos profissionais de saúde. Mais nada. Nem uma pinga de organização extraordinária ou maior aposta no SNS. E, para quem é da casa, não foi surpresa – já há muitos anos que o SNS se sustenta assim.

A pandemia imprimiu um ponto e vírgula nos cuidados de saúde que até então eram prestados no dia-a-dia. Escondeu novas procuras. Agravou o estado paliativo que já era diagnóstico do SNS.

Se a reinvenção de um dos bens mais preciosos da nossa população já era urgente até ao início de 2020, agora será imprescindível para que se possa manter o nível de cuidados que eram prestados antes. O momento em que o investimento no SNS passa de bandeira de propaganda para a realidade tem de ser agora.

Ajeitar números e estatísticas é tapar o sol com a peneira. Toda a gente percebe o que realmente se passa quando deixa de ter a sua consulta de doença crónica de seis em seis meses, quando evita ir a uma instituição de saúde numa situação de urgência, quando a lista de espera para a sua cirurgia aumenta exponencialmente. Um país nota quando os seus indicadores de morbimortalidade pioram, porque os sente na pele.

A desculpa da pandemia não vai durar para sempre, embora vá ser usada durante muito tempo. A discussão sobre a Saúde só vai chegar no final desta pandemia, mas aí já ninguém vai querer falar de Saúde.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR