Passado um ano, podemos dizer que já passou a fase infantilóide de reacção à chegada do vírus SARS-CoV-2 que mudou as nossas vidas. A célebre frase que animou alguns e irritou outros durante o primeiro confinamento veio a revelar-se uma frase tão irreal como os contos infantis que só servem para entreter crianças.

Não, não ficou tudo bem, ficou até tudo muito mal. Um ano depois, temos mais milhares de desempregados, uma economia em agonia e a expectativa de que tudo possa ainda piorar quando acabarem os layoffs e as moratórias.

O cenário que temos pela frente não é bom. Os responsáveis políticos, no poder e na oposição, não têm estado à altura deste grande desafio. Mas a esperança é a última a morrer e, agora, temos que nos concentrar no modo como podemos transformar esta crise numa oportunidade.

Vale a pena, portanto, afinar a pontaria e procurar não repetir a velha máxima que sempre se impõe nestas alturas: “É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma.”

Infelizmente, os sinais que nos chegam da célebre “bazuca” ou PRR não são animadores. Não sou economista, mas, do muito que tenho lido e ouvido aos especialistas, temo bem que a máquina do Estado, ou do ”Monstro”, como Cavaco Silva lhe chamou um dia com propriedade, se esteja a preparar para tomar conta de quase todo o dinheiro que aí vem da Europa.

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É fundamental que o PRR não se transforme num Plano de Recuperação da Rotina nacional, ou num Plano de Recuperação e Resiliência à mudança dos nossos velhos hábitos.

O país que não depende do Estado está a viver grandes dificuldades. Mas, como aconteceu sempre no passado, há-de saber dar a volta e reinventar-se. Muitos negócios e empresas acabarão por fechar as portas, mas muitos outros vão nascer, aproveitando as pistas e sinais dos novos tempos que aí vêm. Foi sempre isto que aconteceu nas crises passadas e é isto que vai acontecer de novo.

O grande problema é o ecossistema em que estas novas ideias vão surgir. E aí voltamos a ter que encarar o velho problema do “Monstro” que come tudo e não deixa nada e ainda cria dificuldades e entraves a quem quer fazer bem sem pedir favores ao Estado.

Ainda vamos a tempo de tomar as opções certas, desde que, por uma vez, os Portugueses abram os olhos e exijam aos políticos, em vez de estarem à espera dos favores do Estado que chegam sempre para a mesma velhinha função pública.

Em vez de estar à espera de eleições antecipadas e de crises que não convêm, está na hora de a oposição fazer o seu papel e impor ao Governo um verdadeiro Plano de Responsabilidade e Renovação da nossa economia. Já o Governo podia começar por fazer um Plano de Recuperação e Remodelação do Executivo. Era um primeiro passo para reconhecer que com muitos destes ministros não vamos lá.

Não, não ficou tudo bem. Não, Sr. Cabrita, a culpa não é dos Portugueses, isso é só estúpido e parvo. A culpa é mesmo sua e de muitos dos seus colegas.