“A verdade é como o Azeite, vem sempre ao de cima”
(Provérbio popular)

Foi há já distantes três anos: “Fiquem em casa” que “Vai ficar tudo bem”. Ainda se lembram?

Talvez agora, quando já nem testes se fazem, quando doentes temos que ir trabalhar porque afinal a doença é assim como que uma gripe, já nos tenhamos esquecido. Ou talvez simplesmente não nos queiramos lembrar das imposições absolutamente ridículas a que António Costa nos obrigou.

E que absurdos eram… Conseguem ver agora a utilidade de não fazer compras antes das 13h? A utilidade de desinfetar praias com lixívia? A utilidade de proibir a circulação entre concelhos? Ou a utilidade de fechar lares para sozinhas, a maioria das pessoas ter morrido nesses locais? Ou ainda na utilidade de impedir as crianças de ir a um parque, mas não os cães? De círculos pintados nos recreios das escolas? Chegam os exemplos? É que davam para encher a página…

Absurdos que muitos acataram cegamente, até porque quando a coisa ficava negra – os três picos – a culpa era dos portugueses que, e apesar de cumprirem escrupulosamente meses a fio entre picos, se portavam mal. Já o governo, esse dizia seguir a ciência. Seguir a ciência? Seguia sim alguns pseudo-especialistas que, como qualquer especialista, se julgavam a última bolacha do pacote, e que nada mais interessava que o tema que os levava à ribalta, defendendo tolices que não lembram a ninguém, de campanhas de medo a educar pessoas como quem educa cães, isto por entre censura – de posts de facebook a artigos de jornais, passando por estudos científicos revistos por pares… Eram os negacionistas, lembram-se?

Ainda assim, o governo seguia-os quando lhe dava jeito. Quando não dava, teve que vir Marcelo dizer o óbvio: “O país não é governado por especialistas”.

Pena que a maioria não tenha assimilado tal frase, certeira diga-se, para avaliar corretamente o que foi a gestão da pandemia. Coisas como contratar mais profissionais de saúde ou melhorar as condições desses trabalhadores, algo que continua por fazer (continuam a fechar-se serviços, a pagar mal aos trabalhadores, a não se respeitarem leis básicas, de horários, de escalas, etc., etc.), apetrechar os serviços (onde andam os ventiladores?), coisas como atender a outras doenças que talvez agora seja mais fácil perceber que são bem mais mortais que a Covid (Cancros ou doenças Cardiovasculares por exemplo) e que foram secundarizadas resultando em mortes em excesso que ainda estamos à espera de saber oficialmente porquê (era dali a um ano, ano que já passou e ninguém sabe), ou como as condições dos lares e que casos recentes nos mostram que continuam uma vergonha.

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E se há muito aqui a esclarecer, na verdade ninguém parece querer saber, avaliar, discutir. O governo e muita da oposição que foi cúmplice (lembram-se de Rui Rio aprovar às cegas?) quer uma pedra sobre tudo isto, para passar a imagem de um bom desempenho pandémico ao invés de ver discutida a irracionalidade que foi a política de Covid Zero, uma pretensão de acéfalos que julgaram controlar a natureza.

Não vale a pena falar mais disto porque acabou por ficar tudo bem? Pelos vistos não ficou tudo bem. E hoje também sabemos que a esmagadora maioria das medidas tomadas foi ilegal, com a cumplicidade de um Presidente que abdicou do seu papel fundamental de ser um garante constitucional.

Hoje estamos a sentir na pele o que foi parar um país, ou melhor, quase toda a Europa (vão lá comparar a mortalidade daquele país que ia fazer um genocídio… sim foi o que muitos disseram da Suécia…), esquecendo a produção de riqueza – ah e tal que “a economia depois vê-se” – e imprimindo dinheiro às resmas sem a devida correspondência à economia real e cujo inevitável ajuste – desvalorização do dinheiro – é a causa da inflação que nos atinge e que o “bom aluno” António Costa – que já foi traquinas, quando estava na oposição – quer travar pela via da receita europeia: empobrecendo os seus cidadãos propositadamente.

Pior, as ofensas aos direitos e liberdades veio para ficar, reforçada com uma maioria absoluta (novamente, daqueles que acharam boa ideia impedir crianças e não cães de brincar, beber coca-cola em vez de cerveja se já fossem 14h, etc.). “Habituem-se” diz António Costa. Todavia muita gente que tolhida pelo medo aceitava este autoritarismo, parece despertar para o abuso e ilegalidade das bondosas propostas com que é brindado. O mais recente exemplo está no pacote – melhor no último pacote porque já são vários sem resultados visíveis – para a habitação.

Mas o mal está feito. Dos franceses que proíbem manifestações à extrema direita no poder em Itália, passando pelas chantagens com fundos comunitários de Ursula von der Leyen, os governantes provaram do poder absoluto e gostaram. Pelo que os abusos aqui e ali, de coisas coercivas a controladas, proibidas, etc., muitas manifestamente ilegais, tornaram-se recorrentes.

Neste contexto, é agora notícia o impedimento de pessoas saírem de casa em dias de risco máximo de incêndio!

A política ditatorial para Incêndios é hoje a nova Covid Zero!

A expressão tem direitos de autor, é do Telmo Azevedo Fernandes. E foi numa conversa com o Telmo e com o arq. Henrique Pereira dos Santos que tive uma divergência com este último (não é costume!). O Henrique foi uma das mais enérgicas vozes a condenar o slogan “Portugal sem fogos depende de todos”, porque é uma afirmação sem sentido: Portugal sem fogos não existe (O fogo é um elemento essencial da nossa ecologia e já cá andava antes de nós próprios, ao ponto do desenvolvimento, ao longo de milhares e milhares de anos de coevolução, de mecanismos de adaptação e mesmo de dependência dos ecossistemas face ao fogo. Portugal sem fogos não existe porque independentemente da nossa vontade o fogo é inevitável, sendo assim inútil a utopia de acabar com ele, e desastrosa no sentido de impedir a discussão sobre o que podemos efectivamente escolher: não se arde ou não arde, mas sim quando e como arde). Contudo, o responsável técnico hoje é o eng. Tiago Oliveira, excelente conhecedor da matéria, o que impede o Henrique de ver um paralelismo entre o que criticava e o novo “Portugal Chama”.

Ora eu, sinceramente, vi poucas diferenças, já que “Portugal Chama. Por Si. Por Todos” tem lá implícito que “depende de todos”. Se dúvidas houvesse, tal como com a Covid, logo veio António Costa acenar a sua mão para as desfazer: o bode expiatório do incendiário continua bem vivo. E se, como no Natal de há dois anos (coisa que os dados da Google desmentiram), correr para o torto? Já sabemos de antemão que os portugueses serão os culpados porque não respeitaram a ilegal prisão domiciliária imposta. Optando pela via do impossível para evitar tragédias, mas conveniente porque populista e desresponsabilizante, novamente oculta-se e silencia-se o desempenho pela via do possível: remunerar serviços ambientais, promover fogo controlado, não tratar tudo da mesma forma (um fogo de inverno não é um fogo de verão) coordenar os diferentes atores em presença ou melhorar (não maquilhar para dizer o mesmo) a comunicação, etc.

Que isto, ou outras tontices tão desligadas da realidade como autoritárias (por exemplo os Planos de Paisagem), não corresponde ao saber técnico e o técnico até é dos melhores (apesar do próprio apelidar as suas propostas como soviéticas)? É verdade. Mas também é verdade que, como “o país não é governado por especialistas”, desconhecemos o que as opiniões de Tiago Oliveira valem para o executivo. Muito ou pouco, certo é que valem menos que o chicote.

Quantas mais chicotadas teremos que levar para entender que não ficou tudo bem?