A propósito de um recente entendimento entre o PSD e o Chega de André Ventura, temos assistido a um chorrilho de críticas e indignações pelo facto de um partido do regime cruzar a linha vermelha de se entender com um partido de extrema-direita. As críticas são compreensíveis, até porque para alcançar o resultado pretendido nos Açores, tecnicamente, não era necessário nenhum entendimento, bastava deixar nas mãos de André Ventura a escolha entre um Governo de esquerda ou de direita.

Seja como for, o entendimento está feito e o tema está em cima da mesa. É ou não aceitável, que um partido como o PSD se entenda com um partido de extrema-direita? A minha resposta é não. Mas acho preocupante que a mesma onda de indignação não tenha surgido quando o PS se entendeu com o Bloco de Esquerda. É de notar que quer PSD, quer PS, aceitaram namorar, mas não casar. Acordo parlamentar sim, mas coligação de Governo nem pensar.

Os moldes em que a discussão se está a travar dão a entender que os extremos são diferentes. Mas não são. Não há bons extremismos, nem uns são menos perigosos do que outros para a democracia.

Se os exemplos da Holanda, da Hungria ou da Polónia nos fazem temer o pior de líderes de extrema-direita no governo de países europeus, o governo espanhol com o Podemos no executivo, ou o governo venezuelano de Nicolás Maduro, ou a Rússia de Putin não nos podem deixar mais tranquilos. Os exemplos servem para demonstrar que tanto a extrema-direita como a esquerda estão em igualdade de acesso ao poder e, portanto, a normalização de uns ou de outros não pode nem deve deixar-nos confundir sobre a essência destas forças políticas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aqui ao lado, em Espanha, a chegada do Podemos ao governo já trouxe uma legitimação prática de ocupações de casas de centenas de espanhóis que, em ausências de férias ou por causa do confinamento, se viram despojados das suas habitações por um movimento “Okupa”, que lá como cá (com o BE) foi criado e incentivado pelo Podemos, que se especializou em explorar as lacunas da lei para se apoderar das casas dos seus legítimos proprietários. Este é um problema sério com que se confrontam neste momento os espanhóis e que começa a gerar um sério problema económico ao país. O direito à propriedade individual está posto em causa em nome da ideologia.

Na educação, a Espanha está também a assistir a uma revolução que, como não podia deixar de ser, está a afectar o direito à liberdade de educação. A chamada lei “Cella” acabou com o convénio existente com escolas estatais e privadas, agravando os custos da educação e limitando a liberdade de escolha.

Finalmente, e para que ninguém se confunda, a indigna proposta para castração química, aqui protagonizada por André Ventura, é, em Espanha, a novíssima bandeira do Podemos.

O que quero dizer com tudo isto é que tão mau é um voto no Chega, como no BE ou no PCP e que apesar do discurso adocicado dos partidos à esquerda do PS, na hora da verdade, se e quando ela chegar, André Ventura e Catarina Martins encontrar-se-ão à beira da mesma fogueira a discutir se devemos queimar ciganos e pedófilos ou capitalistas e católicos conservadores.

A farinha é toda do mesmo saco. Aqui, como em todo o mundo, não há os extremistas fofinhos e os bichos maus, é só dar-lhes poder para provar do seu veneno.