Este ano, a quadra festiva dos Santos Populares está diferente. Sim, também por causa da COVID, mas mais porque os Santos António e João encontraram um outro Santos que acaba por lhes roubar um bocadinho o protagonismo: o ministro Pedro Nuno Santos. Admito que a popularidade do Ministro das Infraestruturas não estará, ainda, ao nível da de um Santo António, ou de um São João, mas dêem-lhe tempo, e mais 2 ou 3 mil milhões para torrar na TAP, e depois logo falamos. O que é verdade é que se os dois primeiros são Santos Populares, neste Santos livra-te de tocares.

Que o diga a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes. A deputada socialista, muito provavelmente num dia em que um estado febril e delirante a apoquentou, lembrou-se de solicitar a Pedro Nuno Santos que, face ao ininterrupto bate-boca com o CEO da Ryanair, tivesse “sensatez, recato e bom senso”. Ora, de acordo com a imprensa, esta atitude foi motivo de fortes críticas dentro do partido socialista, veiculadas em cartas internas, grupos de WhatsApp e conversas privadas. Ou seja, tudo isto permite-nos esclarecer duas questões.

Primeira. Fica agora claro por que razão o PS não apresenta, há anos, uma ideia – uma, que seja – para o país. É que depois de tanto tempo investido no debate de temas com este índice de pertinácia, para mais em vários formatos, como a carta, o WhatsApp, e até conversas internas, um dirigente socialista chega a casa, já a altas horas da noite, e só tem mesmo tempo de lavar os pés e ir para a cama. Quais ideias para o país?! São os mínimos olímpicos em termos da chamada higienezinha e vale dos lençóis com ele, que amanhã há mais tricas, absolutamente irrelevantes para a vida dos portugueses, a precisarem de ser alimentadas.

Segunda. Nem alegando o tal hipotético estado febril e delirante que a terá levado a criticar Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes se livrará de pesadíssimo castigo. Neste momento, no Largo do Rato, deve-se estar a congeminar qual a pena apropriada a tamanha desfaçatez. E não se avizinha tarefa fácil para os algozes socialistas. Afinal, como punir alguém que é já líder parlamentar do Partido Socialista? É um bocadinho como naquelas séries sobre cartéis da droga. Como arrancar informações a um sicário que se mantém calado mesmo depois de o aliviarem dos dois mindinhos e um anelar? De que mais formas castigar o meliante? Não é nada evidente. É como no caso de Ana Catarina Mendes. Bom, talvez atribuir-lhe o cargo de líder da bancada parlamentar do PS de forma vitalícia seja castigo suficiente, não sei.

Agora, nem só de PS viveu a alta política nacional nos últimos dias. Também houve o Congresso do PAN. E quem achava que o Pessoas-Animais-Natureza só se interessa pelo combate contra a discriminação dos pequenos roedores domésticos LGBTI+, ficou a saber que o PAN também se preocupa com a NATO. Sim, sim, a NATO. Mais concretamente, o PAN defende o “desmantelamento da NATO”. Mas não se vai desmantelar aquilo assim à balda, atenção. Nada disso. O PAN preconiza do desmantelamento da NATO mas, como é óbvio, tem já uma solução que garante a segurança da Europa: o Inspector Max. Ah pois, aquele cachorro da televisão. Sempre quero ver se com o canídeo-bófia ali, a patrulhar a fronteira da Rússia, o Putin tem coragem de invadir mais alguma coisa. É o invades, ó Putin.

A propósito de regimes sanguinários. Há escassos dias, comemorou-se o aniversário do massacre de Tiananmen, na China. Em jeito de celebração, a Microsoft fez desaparecer do seu motor de busca as icónicas fotografias do “Homem do Tanque”, aquele indivíduo que se colocou à frente dos carros de combate, impedindo a sua marcha normal. Confesso que, quando ouvi dizer que tinham desaparecido as imagens do “Homem do Tanque”, julguei que as autoridades chinesas tivessem mesmo apagado a imagem do homem das fotos originais, aplicando o Artigo 6ª da Carta Chinesa de Direitos Humanos na Era Digital. Ou que, em alternativa, tivessem apagado os tanques da imagem e, tendo em conta que o homem transportava uns sacos de plástico, os tivessem trocado por um Lidl. E um Aldi, claro. Que a dupla de cadeias de supermercados germânicas fazem uma marcação homem-a-homem digna de um Franz Beckenbauer.

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