O turismo é uma das actividades económicas mais dinâmicas e promissoras para o nosso país, mas para que aumente o número de turistas, é necessário criar as condições necessárias, o que nem sempre é feito, e manter a um alto nível aquilo que temos de bom. Caso contrário, arriscamo-nos a matar a galinha dos ovos de ouro.

A avaria no sistema de abastecimento de combustíveis no Aeroporto de Lisboa, ocorrido na semana passada, e as suas consequências são um exemplo bem claro disso. Milhares de passageiros foram abandonados ao seu destino, sem a informação e o apoio devidos sobre horários de voo e destino das malas. Depois de receber um telefonema de uma amiga russa apanhada da confusão, contactei com um funcionário do aeroporto que me disse que nada mais restava que esperar até ao problema ficar resolvido, mostrando total indiferença quando lhe disse que é muito fácil exigir indemnizações pelos danos materiais e morais provocados. Para os passageiros, felizmente, existem na Internet empresas de advogados que, a troco de uma certa percentagem, conseguem o pagamento de indemnizações. Falo isto por experiência própria.

Podem dizer-me que se tratou de um caso extraordinário, mas é muito estranho que um aeroporto tenha apenas uma via de abastecimento de combustível, não tenho planos de emergência para casos semelhantes.

O Aeroporto Humberto Delgado é, talvez, um dos piores “postais ilustrados” para os turistas, principalmente os que vêm de fora da zona Schengen. É uma vergonha ouvir de um turista que passa uma, duas ou três horas no controlo de passaportes. Não será possível aumentar o número de funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para tornar mais fácil esse processo? O que impede recrutar mais pessoal? As restrições orçamentais? Neste caso, a poupança apenas provoca prejuízos maiores. Também neste campo é necessário investir, pois Portugal não só são paisagens, praias e hotéis.

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Mas há mais casos: por exemplo, o pagamento das autoestradas, exercício que se torna um verdadeiro quebra-cabeças para os estrangeiros. Onde há portagens e Via Verde, as coisas são fáceis, mas o sistema de pagamento nas antigas SCUTs é verdadeiramente ridículo.

Os turistas estrangeiros que alugam automóvel, caso cada vez mais frequente, sabem que têm de pagar quando o seu veículo atravessa os portais de algumas autoestradas, mas onde? A julgar pelo que me dizem os russos que visitam o nosso país, eles não sabem que o pagamento deverá ser feito depois numa dependência dos correios ou através da Internet.

Sendo assim, não seria mau informar os nossos hóspedes de como se paga essas autoestradas ou montar sistemas de pagamento a que estão habituados: nas portagens e na própria hora. Não querem contratar mais funcionários, montem máquinas.

A restauração é outro ramo que deve merecer a nossa atenção. Portugal, pelo menos entre os russos, tem fama de ser um país onde se come e bebe muito bem, a preços moderados, mas, nalguns restaurantes, nota-se a tendência para querer ganhar muito e depressa.

O exemplo da descida do IVA é um flagrante exemplo. Na restauração, esse imposto desceu de 23% para 13%, mas é difícil notar essa descida no preço dos almoços e jantares. Isto até pode ser compreensível, pois esse imposto era demasiadamente pesado, mas já não se compreende o aumento de preços que, muitas vezes, parece ser proporcional ao crescimento do número de turistas.

Além disso, nalguns restaurantes, a comida portuguesa começa a ser adaptada ao gosto dos turistas. Concordo com os que consideram que não se deve “impingir” tripas à moda do Porto, papas de serrabulho ou bacalhau (pratos que muito aprecio) no primeiro dia, mas discordo que se retire da ementa a feijoada de marisco sob o pretexto de que “os turistas não pedem”. Os profissionais da restauração devem ter consciência que podem ter também clientes portugueses. Neste sentido, não posso deixar de salientar os restaurantes da província, alguns dos quais são autênticos tesouros da cozinha portuguesa.

Claro que é importante ganhar “estrelas” nos concursos internacionais de gastronomia, mas a maioria dos turistas procura a “cozinha genuína”, a famosa dieta mediterrânica.

No caso específico do turismo russo para Portugal, é de salientar a entrada de novas linhas aéreas neste mercado, que devem obrigar a Transportadora Aérea Portuguesa a oferecer um serviço mãos fiável e melhor. É difícil compreender quando a TAP decide cancelar voos entre as capitais russa e portuguesa e transferi-los para outras datas, como aconteceu ainda recentemente. O regresso da Aeroflot, a maior companhia aérea russa à rota Moscovo-Lisboa-Moscovo, irá constituir um desafio para a TAP, a não ser que esta considere que há passageiros para todos, principalmente no Verão.

Neste contexto, é sempre bom ter presente o conto popular sobre a “galinha dos ovos de ouro”. Não matem a galinha com a ganância e a cupidez, porque o resultado é sempre o mesmo. Além disso, o turismo tem altos e baixos, épocas de crise, quando só a qualidade consegue evitar prejuízos maiores.