O princípio dos vasos comunicantes foi descoberto pelo físico, matemático e engenheiro flamengo Stevin no século XVI. Eis um exemplo do que o conhecimento das universidades pode produzir com efeito prático nas sociedades, facilitando, entre outras coisas, a construção de aquedutos mais eficazes.

No nosso tempo, onde a informação é tudo, as universidades são, no entanto, um paradoxal exemplo de vasos não comunicantes. A falta de comunicação nas universidades é um desastre.

A Universidade, como instituição de interesse público – e frequentemente financiada pelos contribuintes – tem a obrigação de ser transparente na sua interface social. Tome-se o exemplo da discussão atual em torno do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RGIES). Como pode o cidadão comum ter uma opinião sobre esta importante reforma do modelo de ensino superior, se não tem a menor ideia do que fazem essas instituições?

As Universidades continuam a ser vistas pelo cidadão comum como eternas torres de marfim, onde pretensos sábios manipulam inúteis segredos e investem dinheiro (frequentemente europeu) em misteriosos projetos. A ausência de diálogo entre as universidades e a sociedade facilita o surgimento de falsos profetas sem contraditório, gurus de equivocados saberes e linguagem ambígua, tudo amplificado pelas poderosas redes sociais. As pessoas deixam de confiar em vacinas, o mundo volta a ser plano, e há quem desconfie que o pouso na lua foi mero photoshop.

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Claro que há exceções notáveis, e esforços sérios de disseminação de resultados em certas áreas específicas de impacto. Mas são pontuais. A verdadeira dificuldade de as universidades comunicarem para o mundo tem duas raízes, ambas baseadas na complexidade natural das instituições universitárias. Por um lado, a multidisciplinaridade, que faz com que as universidades sejam compostas por faculdades, institutos ou escolas, pequenos feudos de conhecimento que praticam pouco a articulação entre eles e defendem furiosamente o seu território. Por outro lado, essa incapacidade de coordenação interna faz com que seja difícil definir uma identidade comunicacional para fora da Universidade, necessária para um fluxo natural e coerente de ideias. A Universidade não identifica a sua alma porque, parafraseando Pessoa, não sabe quantas almas tem.

Depois há um outro problema, mais prático. Hoje as estratégias de comunicação confundem-se muito com as estratégias de marketing. As Universidades, muito baseadas no modelo anglo-saxónico vigente, buscam sobretudo fontes alternativas de receita para poderem financiar as suas missões. Nesse contexto, a pouca comunicação que há volta-se rapidamente para o recrutamento de alunos e para as suas exigências mediáticas e comunicacionais.

Os websites mais bem-sucedidos estão totalmente vocacionados para o recrutamento de potenciais estudantes. Os linkedins, instagrams e tiktoks são privilegiados em função dos seus targets comunicacionais, as campanhas digitais idem. Mas se considerarmos as missões das universidades como o ensino e a formação de jovens talentos, a investigação e a geração de conhecimento, e o impacto social da criação de valor através da inovação, convenhamos que o resultado é curto.

Opinião pessoal que não reflete necessariamente a posição institucional da Universidade NOVA de Lisboa.