No debate com Rui Rio, António Costa garantiu aos portugueses que não é Cavaco Silva. A afirmação serviu para dizer que, mesmo que não tenha a desejada maioria absoluta, estará disponível para governar.

A estratégia do líder do PS suscita, no entanto, algumas dúvidas. Ao agitar o orçamento chumbado como a última coca-cola do deserto. Ao fechar portas e pontes com os parceiros de outrora garantindo que com eles não há condições para governar. Ao escolher como primeira ação de campanha apanhar um avião da Ryanair porque a TAP, que garante ser essencial para o país, não tem voos disponíveis para os Açores. Ao admitir, como único parceiro possível, o PAN em claro desgaste nas sondagens… O Primeiro-ministro demonstra que não tem plano B e parece estar a dizer aos eleitores: Ou me dão o que peço ou prefiro perder.

Se há coisa de que temos a certeza é que a máquina socialista é profissional e o seu secretário-geral também. O homem do diálogo, que é também conhecido pela sua visão política, não dá nenhum passo sem avaliar as consequências. O próprio debate com o seu principal concorrente demonstra que Costa não apostou em espetar a agulha onde mais doía a Rui Rio. O tema da prisão perpétua e as propostas para a Segurança Social eram armas poderosas na contenda. Surpreendentemente não foram usadas.

O próprio facto de António Costa ter deixado de lado o pudor em pronunciar a expressão “maioria absoluta”, sem medo que as palavras queimem ou que os eleitores vejam aí uma arrogância a penalizar nas urnas, deixa no ar esta sensação de que Costa está a ser Cavaco sem o assumir.

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A opção pelo caminho do vai ou racha é a via que melhor serve o atual Primeiro-ministro. Depois de 6 anos a guiar a geringonça, ou caranguejola, como também lhe chamaram. Depois de assumir publicamente o falhanço da sua solução milagrosa de 2015. A única forma de Costa sair por cima, sem admissão de falhanço e sem frustrações no exercício do poder, é ganhar por muitos e governar sozinho ou não governar de todo.

A estratégia do tudo ou nada é, portanto, aquela que melhor serve os interesses do homem que ainda está ao leme. É por isso que o líder do PS não apresenta nada de novo nesta campanha eleitoral e anda com um orçamento chumbado e requentado debaixo do braço. Se os portugueses ainda veem em Costa o homem providencial, vão entregar-lhe o voto para fazer mais do mesmo. Se o encanto tiver acabado, é provável que com esta estratégia perca as eleições.

Costa comporta-se como a noiva caprichosa que se recusa a fazer mudanças para conquistar o noivo. Ou gostam dele como é ou ele prefere ir pregar para outra freguesia. Ganhar por poucochinho é o pior dos seus pesadelos.

PS: Algures no país, António José Seguro deve estar a seguir estas eleições com bastante interesse.