São tempos conturbados aqueles que vivemos na nossa casa. É tempo de saber parar. Parar de insistir nos mesmos caminhos, nas mesmas soluções esperando resultados diferentes. Parar. Só parar e refletir para renovar as nossas energias, pois “às vezes precisamos morrer um pouco por dentro para que então possamos renascer e crescer mais fortes e mais sábios, numa nova versão de nós mesmos” (Rodrigo de Abreu).

Que caminho foi este que nos trouxe até aqui? Serão estes tempos fruto de uma conjuntura política nacional ou internacional? Serão estes tempos fruto das ações ou inações deste ou daquele líder?

O caminho mais fácil é apontar o dedo.

Quem optar pelo facilitismo ou oportunismo político, decerto que ficará pela árvore esquecendo por completo a floresta que nos rodeia e os desafios que enfrentamos. Há que encarar a realidade e compreender que não é ignorando um problema que ele deixa de existir. Basta de assobiar para o lado e fingir que o problema não existe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É hora de agir e abandonar a atitude de apatia generalizada e alienação da realidade que o PSD enfrenta, porque corremos o risco de acabar como a nêspera de Mário Henrique Leiria:

“Uma nêspera estava na cama, deitada, muito calada, a ver o que acontecia. Chegou a velha e disse: olha uma nêspera. E zás! Comeu-a! É o que acontece às nêsperas que ficam deitadas, caladas, a esperar o que acontece!”

O estado atual do partido não se deve a um líder, nem a um ato eleitoral. Deve-se a um conjunto de fatores internos e externos que têm vindo a culminar num progressivo afastamento de muitos militantes, desiludidos com os caminhos traçados ao longo dos últimos 15 anos. Progressivo afastamento dos portugueses e das portuguesas que não se revêm no projeto político que temos apresentado. São factos. O PSD é um partido do arco da governação com clara necessidade de se renovar. E para renovar o partido não é suficiente renovar as pessoas. É imprescindível ir mais além. É preciso renovar o projeto político que apresentamos aos portugueses.

O partido enfrenta hoje novos paradigmas que exigem respostas, construindo um projeto político que corresponda aos anseios e expectativas de Todos, ao invés de nos fecharmos, cada vez mais, sobre nós próprios.

Mas não basta citar Sá Carneiro. É preciso viver o seu legado e pacificar toda a família social-democrata em torno de um projeto político forte, consistente e inovador.

Enquanto social-democrata, não aceito resignar-me a que o nosso partido seja observado como um gabinete de crise que é chamado a governar para corrigir as irresponsabilidades cometidas pelos governos socialistas. Temos que ambicionar mais e melhor para Portugal.

Unificar, construir e comunicar, eis os três grandes desafios que o PSD encara nos próximos anos para reerguer a relação de confiança com os portugueses.

Unificar e pacificar toda a família social-democrata em torno de um líder firme, credível, moderado, solto de amarras e com um projeto claramente agregador. Um líder que permita a coexistência das várias sensibilidades internas e a pluralidade de opiniões, de modo a que todos possamos crescer politicamente. Esta diversidade é a grande mais valia do nosso partido: “As nossas qualidades só podem ser aperfeiçoadas e os nossos defeitos diminuídos, se, todos, velhos e novos, procurarmos um rumo comum, baseado na diversidade de posições, no livre e continuado debate de ideias e de programas, na prática de uma vida verdadeira” (Francisco Sá Carneiro).

Mas não basta citar Sá Carneiro. É preciso viver o seu legado e pacificar toda a família social-democrata em torno de um projeto político forte, consistente e inovador. Um projeto que seja o reflexo da matriz que nos une, capaz de construir pontes na multiplicidade de visões, com o qual todos os cidadãos se identificam.

Para que este projeto político seja uma verdadeira solução governativa é imperioso reavivar a relação com a sociedade civil. É necessário reafirmar o PSD como um partido dialogante, aberto, plural e unificador.

Neste sentido, não podemos continuar a insistir num projeto político estatizado no tempo e no espaço, construído de dentro para dentro, assente numa visão quase dogmática da sociedade, da economia ou do papel do Estado. Temos que ir mais além. Temos que saber sentir os ventos de mudança que Portugal enfrentou nas últimas décadas, as mutações sociais, económicas e culturais que transformaram profundamente Portugal, a Europa e o Mundo.

É, portanto, determinante ambicionar mais e melhor para Portugal expandindo horizontes, desenvolvendo um programa político verdadeiramente universal, estruturado em linhas orientadoras refletidas, concretas e realistas, que sejam, simultaneamente, percetíveis e acessíveis para os cidadãos. Um programa com metas e cronogramas simples e objetivos. Um reflexo das necessidades, das preocupações e das expectativas dos portugueses.

Não podemos continuar a insistir num projeto político estatizado no tempo e no espaço, construído de dentro para dentro, assente numa visão quase dogmática da sociedade, da economia ou do papel do Estado.

Só seremos uma verdadeira alternativa reaproximando-nos dos cidadãos, investindo numa relação de confiança e de empatia, combatendo o descrédito em que a Política e os políticos caíram nas últimas décadas.

Importa traçar estratégias a longo prazo que respondam de forma séria e determinada aos problemas reais que afetam os portugueses, todos os dias, nos setores da Saúde, da Justiça, do Emprego, da Educação e da Economia.

Não podemos continuar a assistir impávidos e serenos ao processo de captura por parte da esquerda de “bandeiras” que são de todos, e de cada um de nós, como a Cultura e o Ambiente.

Os portugueses estão fartos de palavras, intenções, de programas e mais programas construídos para um país irreal.

Em momento de dificuldade, o PSD tem assumido a sua missão de forma determinada no equilíbrio sustentado das contas públicas, no controlo do endividamento externo e da dívida pública, sempre com o objetivo central: preservar o Estado Social. Esse Estado Social tão apregoado por aqueles que o têm colocado em perigo com as suas políticas de despesismo.

Menosprezada por uns e ignorada por outros, a política de comunicação do PSD tem contribuído decisivamente, ao longo das últimas décadas, para acentuar o fosso entre os cidadãos e o partido.  A praxis comunicacional levada a cabo pelo partido e seus líderes tem resultado numa imagem fria e distante dos portugueses.

Apesar do trabalho que tem sido levado a cabo, nos últimos dois anos, na renovação e modernização da imagem do PSD, não parece chegar ao grande público, ou seja, aos cidadãos, sendo essencialmente direcionada aos militantes e não ao “cidadão comum”. Não obstante tratar-se de um sinal positivo de mudança na estratégia de comunicação, é preciso ser-se mais ambicioso. É preciso chegar às pessoas com uma linguagem autêntica, clara e objetiva, longe dos discursos políticos construídos por tecnocratas em gabinetes do alto de um “palácio” isolado.

Não podemos continuar a assistir impávidos e serenos ao processo de captura por parte da esquerda de “bandeiras” que são de todos, e de cada um de nós, como a Cultura e o Ambiente.

Soma-se a falta de um discurso fluído, sem redundâncias e sem medos, que desconstrua narrativas viciadas apresentadas, reiteradamente, em espaços de opinião pública, contra a imagem do partido e as suas políticas. O exemplo mais óbvio reporta ao período troika e pós-troika em que partidos de esquerda persistem (com sucesso) em atribuir responsabilidades exclusivas ao PSD dos grandes males do país.  Quase uma década depois deste episódio na política portuguesa, o PSD continua incapaz de repor a verdade, sustentada por factos, e esclarecer cabalmente os portugueses.

Encontramo-nos num momento decisivo no partido. Mais do que um momento de eleições para o futuro líder, que não se resume a uma de três opções de rumo político, trata-se de um momento chave para refletirmos verdadeiramente o estado atual do partido e que futuro lhe queremos dar.

Há um trabalho a longo prazo a ser realizado pelo partido que só prosperará com a união com os cidadãos, renovação do país e compromisso para com o futuro. Somos o Partido Social-Democrata, o maior partido português e o mais português dos partidos. Está na hora de dar uso à nossa força e expressão à nossa essência.

Por tudo isto, não sou Rui, nem Luís, nem Miguel. Eu sou PSD!