A neutralidade carbónica é o desafio dos tempos de hoje. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado no início de agosto, é claro: os efeitos das alterações climáticas já se estão a sentir e o planeta deverá aquecer 1,5 graus nos próximos 30 anos em qualquer um dos cinco cenários traçados.

O relatório surge num verão em que o clima já não conseguia passar despercebido – assistimos às notícias de que Madagáscar é o primeiro país onde se passa fome devido às alterações climáticas, aos incêndios na Grécia, Itália, Turquia e Argélia ou às inundações na Europa Central. A materialização do que antes eram eventos climáticos raros e altamente improváveis – com impactos massivos, extremos e além-fronteiras –, é já hoje totalmente previsível com impactos sociais e económicos de elevada magnitude.

Todos estes eventos se desenrolam enquanto enfrentamos uma pandemia. No entanto, enquanto a pandemia de Covid-19 irá certamente ficar sob controlo, o mesmo não se pode garantir em relação ao clima. Se nada fizermos pelo planeta, as alterações climáticas vão continuar o seu percurso, trazendo uma variedade de acontecimentos complexos e de difícil resolução, comprometendo, gradualmente, tudo quanto é vida na Terra.

Em vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), a mensagem do IPCC reforça que o risco é elevado. Entre outubro e novembro, a COP26 voltará a trazer a ação climática para o foco das atenções, mas mesmo para quem não estiver em Glasgow neste ponto de diálogo de representantes políticos, organizações e entidades não-governamentais, há muito para fazer em prol da neutralidade carbónica. Todos nós podemos ter um papel a desempenhar.

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O contributo das empresas

Agir agora é mitigar o risco – cada vez mais premente – que as alterações climáticas trazem às pessoas e às organizações, desde a escassez de recursos ao risco físico sobre infraestruturas e operações. Agir agora é darmos passos firmes para nos protegermos hoje e no futuro, contribuindo assim para uma maior resiliência coletiva.

Como o podemos fazer? As alterações climáticas são, de facto, complexas, impactam diferentes dimensões, sendo fácil sentirmos alguma incapacidade para agir. Mais do que importante, é necessário que resistamos à inércia, pois há sempre ações e iniciativas que podemos e devemos tomar que vão contribuir para mitigar estes efeitos devastadores. Mesmo o “pouco” que façamos, obtém um relevante agradecimento das comunidades e do planeta. De facto, enquanto cidadãos ou empresas, podemos sempre contribuir.

No caso das organizações, é importante reduzir emissões de carbono em toda a cadeia de valor e, no caso dos investidores, repensar e equacionar a exposição às emissões de carbono. Esta mudança assume-se como fundamental nas operações do dia-a-dia, com práticas mais sustentáveis no consumo de energia, equipamentos e frotas mais eficientes, menor recurso a plástico e a papel, ou estratégias mais sustentáveis nas deslocações, por exemplo.

No caso da energia, temos a geografia a nosso favor, com Portugal a apresentar condições favoráveis à produção renovável – no primeiro trimestre do ano, fomos o segundo país com maior incorporação renovável na geração de eletricidade (79,5%, segundo dados da Associação Portuguesa de Energias Renováveis – APREN). Neste ponto específico, o nosso potencial de mudança com sucesso é elevado.

Todas estas medidas são cruciais, contudo não chegam. Sejamos realistas: nenhuma empresa consegue ser neutra em carbono de forma isolada. A mudança tem de ser sistémica e partir de cada um de nós. A boa notícia é que há um leque colossal de oportunidades de compensação de emissões, através de projetos de apoio a ecossistemas prioritários, que são também importantes sumidouros de carbono, tais como projetos promotores da plantação e gestão sustentável de áreas florestais.

Estamos em contagem decrescente para a COP26. Mas há mais contributos além das negociações nas conferências das Nações Unidas. Os tempos que vivemos tornam-nos a todos protagonistas no combate às alterações climáticas. Existem oportunidades, tecnologia, conhecimento e boas práticas de referência que nos apoiam para sermos cada vez mais sustentáveis. Acreditemos que é possível e façamos acontecer.