Hoje trago uma fábula. Em tempos que parecem já muito, muito distantes, quase tão distantes como aqueles em que os animais falavam, o Primeiro-Ministro de Portugal ia ao Parlamento, de 15 em 15 dias, responder a perguntas dos deputados. O líder do Governo exasperava por ter de prestar contas aos representantes dos cidadãos e logo 2 vezes por mês. “Onde é que já se viu isto? Como se não bastasse falar ao país no Altis, de 4 em 4 anos, depois de ganhar as eleições! Ou de as perder, não interessa, que na prática vai dar ao mesmo”, vociferava o líder do Partido Socialista. Até que, certa noite, António Costa teve um sonho…

António Costa: Então você aparece-me detrás de um roupeiro a interromper-me o sono? Quem é você? Um fantasma?

Eventual Fantasma: Não.

António Costa: Um duende?

Porventura Duende: Também não.

António Costa: É o meu anjo-da-guarda.

Quiçá Anjo-da-Guarda: Muito superior a isso. Eu sou o Rui Rio. E estou aqui para satisfazer o teu desejo de acinte.

António Costa: Uau. Igualzinho ao chofer do reclame do Ferrero Rocher mas, em vez de satisfazer a minha gulodice, pode saciar a minha propensão para ser desagradável, é isso?

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Rui Rio: Nem mais. Diz-me o que posso fazer para elevar a tua soberba a níveis com que nunca sequer sonhaste.

António Costa: A sério? Nesse caso, será que dá para os debates a que tenho de ir no Parlamento, de 15 em 15 dias, passarem a ser só uma vez por mês?

Rui Rio: Uma vez por mês?

António Costa: É pouco, não é?

Rui Rio: É de mais, António. Tu tens de trabalhar. Nomeadamente, a tua capacidade para te borrifares para a oposição. Podes fazer mais e melhor. Passas a ir ao Parlamento de 2 em 2 meses e não se fala mais nisso.

António Costa: Iupi!

Reza a lenda que foi isto que aconteceu. E entre todas as teorias que já ouvi para o líder da oposição querer escrutinar 4 vezes menos o Governo esta parece-me, de longe, a mais plausível. É verdade que não será uma fábula com a qualidade das do grego Esopo, mas mesmo o lusitano Sócrates considerou esta decisão um passo atrás para a cultura parlamentar. Sim, sim, até José Sócrates vislumbrou aqui uma deriva anti-democrática. Agora façam as contas.

A propósito de José Sócrates e de outros tempos em que os Primeiros-Ministros eram fortemente escrutinados, lembrei-me do ex-Presidente da República, Jorge Sampaio. Isto porque, em 2004, Jorge Sampaio escrutinou até ao tutano o então Primeiro-Ministro, Santana Lopes, acabando mesmo por dissolver o Parlamento e abrir caminho à maioria absoluta de José Sócrates. Volvidos 16 anos, Sampaio volta a brilhar a grande altura, desta feita enquanto presidente do júri que atribuiu a Greta Thunberg o prémio Gulbenkian para a Humanidade, no valor de 1 milhão de euros. Quando se trata de tomar decisões com impacto no nosso futuro é Jorge Sampaio quem devemos escutar. E depois fazer o exacto oposto.

Falando de decisões com impacto no futuro, foi notícia nos últimos dias o pai de Famalicão que proibiu os filhos de frequentarem as aulas de Cidadania e Desenvolvimento, deixando-os em risco de chumbar dois anos. Na base da decisão parece estar a ideia de que a abordagem às questões de sexualidade e género nesta disciplina está eivada de, digamos, doutrinação progressista. Eu punha o meu dinheirinho em como há dessa eiva e a rodos. Mas o meu problema com a Cidadania e Desenvolvimento não é ideológico. É matemático. Por exemplo, a questão da fluidez de género reduz a capacidade de raciocínio matemático. No meu tempo, se queríamos espreitar as raparigas no balneário tínhamos de resolver o seguinte problema. Sabendo que: a professora sai do balneário às 10h43; desloca-se até à sala de professores a uma média de 5 km/h; a sala de professores fica a 37 metros do balneário; e que a professora volta ao balneário depois de tomar café em 2 minutos e 49 segundos. Pergunta-se: a que horas temos de estar de regresso ao nosso balneário de molde a que ninguém descubra que fomos espreitar as raparigas? Ora, isto era motivação para aprender Matemática. Hoje em dia, com a fluidez de género, é assim:

Carlinhos: Professora, hoje quero vestir-me no balneário das raparigas.

Professora: Ó Carlinhos, mas tu és um rapaz.

Carlinhos: Não, Professora, hoje sinto-me uma menina.

Professora: A sério? Mas no outro dia também disseste que te sentias um gambá e depois percebemos que afinal não.

Carlinhos: Tem razão. Não era um gambá, era um coala. Sabe que confundo um bocado os marsupiais. Mas hoje sinto-me mesmo uma menina. Às quartas e sextas de manhã acontece-me sempre isto.

Professora: É? Então, pronto. Vá lá vestir-se com as meninas.

Estamos a incentivar a preguiça destes miúdos.