Os mais recentes indicadores de vendas automóveis indicam que os consumidores portugueses procuram cada vez mais automóveis elétricos ou híbridos – em 2020, tiveram o melhor ano de sempre -, fazendo cair a quota de mercado dos automóveis movidos unicamente através de combustíveis fósseis – gasolina, gasóleo ou gás natural.

Isto revela uma maior consciência coletiva relativamente às alterações climáticas, impulsionada pelos apoios do Estado. Em simultâneo, os agentes da mobilidade adaptam-se, possibilitando o uso massivo de veículos elétricos: constroem novas fábricas de produção de iões de lítio (em grande escala), aumentam a oferta de carros híbridos e elétricos, alargam a rede de postos de carregamento elétrico e multiplicam as soluções de carregamento doméstico.

Tudo isto prova que a mobilidade elétrica está a consolidar-se no país, numa primeira fase com maior expressão nas zonas com maior tráfego, o que nos leva a antever que o planeamento urbanístico vá mudar muito rapidamente. Olhando para algo que faz parte das nossas rotinas diárias, os postos de abastecimento e as estações de serviço, é de antever que estas terão de se atualizar, ou mesmo reinventar. Uma transição do tipo de energia que fornecem, por si só, não será suficiente, uma vez que irão competir com o carregamento doméstico e as redes já instaladas em locais de lazer e do quotidiano das famílias, como, por exemplo, nos centros comerciais.

O desafio que se coloca é, portanto, olhar para estes espaços e encontrar soluções que lhes permitam manter a relevância no contexto das nossas rotinas diárias. Do meu ponto de vista, mais do que uma renovação visual, faz sentido uma renovação conceptual, ou seja, estes espaços têm de deixar de ser vehicle-centric e passar a ser consumer-centric. Como?

  1. Repensando modelos de serviço: 100% autónomo / híbrido / premium;
  2. Melhorando serviços existentes e acrescentando novos serviços, que permitam ao consumidor maximizar o seu tempo enquanto o seu veículo se encontra em abastecimento, tais como serviços de lavandaria, de entretenimento, de workspace para trabalho colaborativo e, quem sabe, até serviços públicos, com a extensão da rede de lojas do cidadão, promovendo o aparecimento de novos modelos de negócio, numa relação simbiótica entre posto de abastecimento e comércio físico;
  3. Tirando partido da digitalização: esta é uma oportunidade para novos modelos de negócio digitais. Por exemplo, os comercializadores de eletricidade para a mobilidade elétrica e os operadores de pontos de carregamento poderão equacionar uma forma da tecnologia suportar serviços digitais relevantes para os consumidores finais, como proximity marketing (através da utilização de beacons para detetar qual o cliente que entrou na loja, ou a sua localização dentro da loja), promoções em tempo real (através de reconhecimento facial), pagamentos “invisíveis” (através de computer vision e IoT para deteção automática de matricula, modelo, condutor),  chatbots (p.e. através de WhatsApp) para aquisição de combustíveis ou outros bens, ou o recurso a Inteligência Artificial, Predictive Analytics e Geo-fencing para encomendas automáticas aquando da paragem num posto especifico.

Sabendo que há milhares de estações de serviço instaladas no país, percebemos que este processo de transformação será longo e tocará muitas comunidades e pessoas, acompanhando o processo de consolidação da mobilidade verde em Portugal. É expectável que se inicie nas cidades e só mais tarde em autoestradas ou vias entre grandes cidades. Também rapidamente se entende que a reinvenção destes espaços pode proporcionar novas oportunidades de negócios e a criação de milhares de empregos, por isso, esta mudança deve ser encarada com otimismo, sem descurar a preparação, capacidade de adaptação e agilidade que se impõe a estruturas e organizações em transformação.

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