Durante as últimas semanas temos sido bombardeados com discursos, comentários, interpelações e notas que não só em nada abonam à boa saúde da nossa Democracia, como também, e perigosamente, legitimam o discurso inflamado e insultuoso característico das alas antidemocráticas de direita e de esquerda.

Após o discurso do Professor Aníbal Cavaco Silva, discurso esse pesado, denso, com muita crítica ao comportamento ético e à falta de concretização do atual governo do Partido Socialista, não faltaram críticas inflamadas, injuriosas, repletas de ataques pessoais e cheios de inverdades desse mesmo Partido Socialista, sobretudo pelas mãos do seu Secretário-Geral Adjunto, João Torres. Quanto à análise política e às opções políticas, é salutar que as partes divirjam. Aliás, assim se vê as verdadeiras opções e opiniões dos chamados “Partidos do Centrão”, PS e PSD, que tantas vezes e erradamente se parecem confundir. No entanto, e neste caso específico, foi no ataque pessoal, no insulto e nas inverdades (para não lhes chamar diretamente de mentiras), que essa disputa se tornou inócua e desnecessária. A atitude de um responsável político-partidário como é o Secretário-Geral Adjunto João Torres é precisamente a atitude que legitima os partidos que gostam de, na sua propaganda, colocar fotografias de personalidades riscadas, fazer discursos inflamados e injuriosos, interromper constantemente ou criar performances teatrais que dilaceram a urbanidade e o respeito para com as instituições. É nas atitudes efusivas e histéricas como a do Secretário-Geral Adjunto João Torres que a nossa Democracia fica diminuída e empobrece, ficando cada vez mais à mercê de movimentos antidemocráticos que só têm a ganhar com o aumento da clivagem e o empobrecimento ético e moral da atividade política.

Mas o problema é muito maior do que um simples Secretário-Geral Adjunto que convive mal com a realidade.

O problema persiste e aumenta quando também temos Porfírio Silva e Eurico Brilhante Dias a disputar com Pedro Pinto e André Ventura o lugar de Deputado com maior número de interrupções em plenário, quando temos um Presidente da Assembleia da República como Augusto Santos Silva que no alto da sua parcialidade castiga uns em detrimento de outros, onde tem dois pesos e duas medidas e que procura através da condução dos trabalhos parlamentares praticar uma constante campanha presidencial num local onde se exige respeito, a disciplina, mas, sobretudo, a imparcialidade. Persiste e aumenta quando um Primeiro-Ministro como António Costa, que mesmo indo apenas uma vez por mês à Assembleia da República, se recusa a responder, troça e destrata deputados eleitos da mesma forma como ele próprio foi eleito, tendo no episódio com Rui Tavares na passada semana o seu epítome, uma situação deplorável e desonesta que deixou a nu que, para o Partido Socialista, quem não alinha nas suas ideias ou partilha da mesma visão é contra o Estado e contra Portugal.

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A simplificação clubística da política, tornando-a um simples confronto entre esquerda e direita, do nós contra o eles, os bons contra os maus é, em si, uma das principais fontes e essências do populismo.

A vida das pessoas não é, nem pode ser, discutida com preconceitos e uma visão obscurantista das iniciativas dos nossos adversários políticos. As pessoas são o início e o fim de toda a ação política e por isso apenas a melhoria das suas condições de vida e a sua prosperidade podem ser o motor e a motivação para a nossa dedicação à causa pública. É também com esta mentalidade que temos de perceber e compreender que em política não existem inimigos, existem adversários, existem ideias opostas, existem diferentes visões com um só objetivo, melhorar a vida dos nossos concidadãos.

O regular funcionamento das instituições não está apenas em causa nos “casos e casinhos”, nas “horas e horinhas”, mas está e estará cada vez mais nas mãos de todos os responsáveis político-partidários que têm e terão a dura tarefa de voltar a trazer a dignidade, a nobreza e o respeito às disputas político-partidárias.