Faz 48 anos amanhã, mas já não está entre nós.

O Nuno deixou-nos com a sensação de uma oportunidade perdida. Durante tantos anos entre nós, deixou marca, já por muita gente descrita: um homem bom, com um sorriso que o definia, certo das suas ideias e dos seus princípios de vida, um homem de fé e leal. O mais leal de todos.

Na política, o Nuno era autarca eleito na Junta de Freguesia da Ajuda em Lisboa, foi cabeça de lista nas últimas legislativas pelo círculo de Bragança e era um militante empenhado do CDS. Foi tudo isto de corpo inteiro e trazia para a política, para além das suas qualidades, uma cultura segura, um sentido claro do serviço ao bem comum, a frontalidade de defender as suas ideias dentro e fora do partido, uma visão da política abrangente e a herança e o orgulho de ser filho de quem era. O seu pai, Adriano Moreira, era a sua grande inspiração e o seu mestre na política como no resto, em actos e pensamento.

Para ele, a política era clara, a ideologia não se baralhava de acordo com as circunstâncias nem com as maiorias. Era democrata cristão e isso dava-lhe uma chave de leitura para toda a realidade.

Franco, leal e idealista, era visto por muitos como ingénuo. O seu perfil não se adequava a habilidades e jogadas, hoje consideradas pragmatismo, mas que no seu código ético eram inaceitáveis sempre que representavam cedências aos seus princípios. Por tudo isto, o Nuno não era muitas vezes considerado entre os seus pares. A sua bondade natural e aquilo a que chamamos ingenuidade, mas que de facto é honestidade de carácter, não foram devidamente valorizados por todos os que o rodearam.

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Agora o Nuno já não está cá para telefonar aos seus pares sempre que julgava necessário clarificar ideias e conceitos, sem complexos nem cerimónias. Agora, muitos dos que recebiam esses telefonemas, entre os quais me incluo, sentirão a ausência de uma voz que nos chamava sempre ao essencial da política.

Num tempo em que nos angustiamos com o vazio da direita em Portugal, a partida do Nuno é uma má notícia sobretudo para o seu partido. O Nuno Moreira encarnava o CDS dos seus fundadores e construtores, não era um político profissional, mas fazia política como um verdadeiro democrata cristão. Não procurava honras nem lugares, procurava construir um mundo e uma sociedade onde a justiça social se fazia a partir do respeito pela liberdade individual em todos os seus aspectos. Procurava para todos o mesmo que procurava e encontrou para si, a realização e a felicidade.

Agora que partiu, pergunto-me: não devíamos ter mais homens destes na frente política? Não deveriam a transparência e a nobreza de carácter – hoje rotulada de ingenuidade -, serem mais valorizadas nos que aspiram a conduzir os nossos destinos?