Assinalou-se no passado dia 24 de maio o dia do Técnico de Manutenção de Aeronaves (TMA). Neste dia, em 1868, nasceu Charles Taylor conhecido como sendo o primeiro TMA da história. O seu papel foi fundamental para a realização, com sucesso, do voo dos irmãos Wright e os seus conhecimentos de aerodinâmica e mecânica contribuíram para que o voo decorresse em total segurança. O seu contributo foi importantíssimo para o alcance deste importante marco na história da aviação.

Naquele tempo, o maior desafio era conseguir fazer um voo em segurança do ponto A até ao ponto B, e esse foi o grande mérito e a contribuição de Charles Taylor. Hoje, os desafios são diferentes, mas o objetivo é o mesmo: dar total segurança a quem utiliza os aviões como meio de transporte. A tecnologia evoluiu muito, a complexidade dos sistemas dos aviões também, a formação e legislação estão ao nível das profissões mais reguladas no mundo! Tudo isto para um objetivo primordial, a segurança.

O TMA começa a sua formação numa escola devidamente certificada pelas autoridades aeronáuticas (ANAC), onde tem variadas matérias para estudar – matemática, física, aerodinâmica, sistemas digitais, legislação aeronáutica, fatores humanos, sistemas de aviões, etc.  Após esta formação básica, ingressa na profissão e começa uma segunda etapa da sua formação, com uma componente mais prática.

Durante a sua vida profissional, estes técnicos precisam de fazer a formação especifica do avião onde vão desempenhar as suas funções (type training). Estes cursos demoram cerca de dois meses por cada tipo de avião. Mas o desafio não termina aqui: uma aeronave tipo um A330 tem mais de 30 sistemas independentes que vão desde o sistema de ar condicionado, passando pelo piloto automático, sistemas de navegação, até ao motor e os seus vários subsistemas, o que obriga o TMA a uma formação constante para estar minimamente conhecedor dos vários sistemas. A tudo isto acresce formação obrigatória a cada dois anos (fatores humanos, fuel safety, sistema de interconexão de fios elétricos, entre outros).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chegados aqui, ao fim de cerca de 10 anos de aquisição de conhecimentos, temos um TMA formado e com capacidade de ter um raciocínio e discernimento que, perante uma anomalia num avião, consiga tomar as melhores decisões, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista da segurança.  Isso é ser TMA.

No momento em que vivemos, há toda uma nova realidade para os TMA. Por um lado, há uma previsão de procura para os próximos anos de cerca de 700 mil TMA, segundo dados da Boeing. Vivemos uma escassez destes profissionais como nunca se viveu até hoje. A pandemia da Covid-19 afastou alguns destes profissionais – reformas e saídas para outros projetos de vida – e a nova realidade é uma disposta entre as empresas pelo recrutamento destes profissionais.

Infelizmente, a nível nacional não há capacidade, ou vontade, de dar as condições que estes profissionais merecem e os mesmos são obrigados a emigrar – fragilizando as empresas nacionais. O país perde profissionais altamente especializados que podiam aportar muito valor à economia nacional – um profissional destes ganha em Espanha, França ou noutro país da Europa, quatro a cinco vezes mais do que numa empresa nacional, por outro lado as empresas estrangeiras a operar em Portugal também pagam o dobro ou o triplo, em relação às nacionais.

Todo este cenário explica, em parte, a falta de eficiência e rentabilidade das empresas nacionais. Um TMA barato sai muito caro a qualquer empresa.

Como ontem, hoje e certamente amanhã, são estes profissionais, conjuntamente com algumas outras profissões, que fazem da aviação o que ela é; um meio de transporte rápido e seguro. Todos os dias, apesar de nem sempre estarem reunidas todas as condições, fazemos o melhor e damos o máximo de nós para que cada voo se inicie e termine em total segurança. É esse o nosso “main goal”, é para esse objetivo que nos formamos e nos empenhamos todos os dias.

Bons voos em total segurança e com o selo de que os aviões estão inspecionados e reparados segundo os mais elevados padrões.