Recuando a finais do século passado, continuamos com a mesma dúvida e dificuldade em diferenciar a profissão de artífice e de artesão. “Artesão” e “Artífice” são termos que normalmente são usados de forma quase indiferente. No entanto, existem pequenas e subtis diferenças entre os mesmos.

Um artesão é o profissional que cria objetos feitos à mão usando competências e técnicas tradicionais. Um artesão geralmente trabalha com materiais, tais como a madeira, a cerâmica, couro, tecido ou metais preciosos. As peças produzidas costumam ser únicas e personalizadas. O artesão pode trabalhar de forma independente, numa pequena oficina, ou como parte de uma comunidade de artesãos.

Já o artífice é o profissional que é geralmente considerado como sendo especialista numa determinada área, podendo incluir-se o artesanato, mas também outras áreas como a mecânica, a eletrónica, a metalurgia e outras formas de fabricação industrial. Um artífice pode ser preparado para trabalhar numa ampla gama de competências e pode trabalhar em projetos mais complexos, muitas vezes em equipas maiores e em ambientes mais técnicos e industriais. O artífice está intimamente ligado ao saber-fazer e importância destes para as marcas.

Assim, podemos resumir: Um artesão é geralmente associado à criação de objetos únicos e personalizados usando técnicas manuais tradicionais, o artífice é considerado um profissional com aptidões técnicas especializadas, numa ampla gama de áreas de produção e fabricação.

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Neste sentido, de que forma, nós, consumidores, poderemos valorizar este saber-fazer? Especialmente quando se trata de uma arte que nem todos sabem fazer? Ora, um produto é muito mais do que uma marca ou empresa, é um legado! Um saber transmitido entre gerações que vai muito além do que uma produção ritualizada de determinado objeto.

A arte sempre foi a expressão máxima de um povo, sendo capaz de indicar as particularidades, as regionalidades e os marcos socioculturais que cada cultura possui.

O trabalho de um artesão pode ser entendido como uma dessas formas de manifestações artísticas da sociedade, dado que envolve questões sociais e de ancestralidade, a combinação entre tradição e contemporâneo, a transmissão de conhecimento entre gerações, com uma enorme relevância na economia local.

Todos os trabalhos que envolvem uma habilidade, uma dedicação, uma especialização num ofício, vão muito além da arte, definem a cultura de um povo. Será esta dedicação levada ao apuro que converte um processo numa quase invenção, num elemento raro que sai das mãos de um artista.

A execução de determinada peça por um artífice que a torna única pode criar uma marca de excelência. Esta figura tem, por isso, um papel preponderante na criação de uma marca de excelência, já que a sua competência na execução de determinado produto, permite que este ocupe um lugar de destaque no mercado, simplesmente graças ao seu carácter diferenciador, de personalidade e único.

Podemos dizer que as marcas de excelência devem muito do seu prestígio e qualidade ao saber-fazer desenvolvido pelo artesão. Assim, ao desvalorizar o trabalho de um artesão, não o indicando como um dos principais responsáveis pela qualidade de um produto ou de excelência, estamos a igualmente a desacreditar o valor de uma marca. E num sentido, não é apenas a cultura de um país que perde, mas a sua economia também.

A nova geração de artesãos e artífices têm o direito de viver do seu trabalho. Temos excelentes profissionais e a valorização tem de partir primeiro de nós, artesãos, e depois dos consumidores. A valorização está nas nossas mãos, vem de como olhamos para a arte e para os artistas sejam artífices ou artesãos.