É comum ouvir as pessoas falarem de como o sol ajuda à boa disposição. É um natural antidepressivo. O tempo do verão aquece o corpo e a alma. Convida a sair para o exterior, ao convívio, a momentos de alegria. Todavia há uma minoria de pessoas que não apreciam esta época do ano porque não se dão bem com o calor e ficam irritadiças; outras sofrem do que se chama summer blues, vivem uma tristeza dissonante com os ícones da época estival.

A altura de verão é associada ao tempo de férias, pois é, para a maioria, o tempo das férias mais alargadas. Lá está o contraponto da mágoa daqueles que não têm possibilidade de gozar o tempo de lazer.

A importância de ter o horizonte, e não a terra, à vista, é o impulso para  a evasão. E, tempos de evasão, são cruciais para limpar a mente. Lembrando como Camus falava da arte como um meio de libertação, sendo a possibilidade de o indivíduo poder mergulhar no sonho e esquecer o presente, podemos recorrer a esta analogia para encarar as férias de verão como esse tempo de suspensão. Mesmo com a noção de que a ebriedade provocada por esse estado de pausa com a realidade é efémera, tais momentos não deixam de ter um efeito terapêutico e um meio de acesso para nos distanciarmos do padecimento do mundo real.

Precisamos de largar os horários a cumprir, os afazeres das obrigações, para verdadeiramente sentir o que é descansar. E, incrivelmente, até é neste estado que podem surgir ideias criativas e novos planos para quando voltar à dita rotina.

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O tempo de convívio com a família e com os amigos é alargado. Lá se manifesta o binómio de bons tempos quando defronte de “boas” famílias e belas amizades ou “mau”, quando ressaltam as dificuldades relacionais entre tais. Se uns desfrutam e guardam os momentos das férias como relíquias, outros defrontam-se com um tempo de pesadelos pelas chatas discussões.

Escolher férias que agrade a todos é um desafio de modo a cada um sentir que goza do seu tempo a seu gosto. Para tal, há que estabelecer como cada um consegue fazer o que mais lhe apraz. Conciliar os tempos em conjunto e os momentos individuais é um modo de ajustar vontades. Se houver atropelos e muito ruído lá se escapa o espírito das férias.

Quer-se do verão uma colecção de boas memórias e tirar fotografias com feições sorridentes. Aspira-se a um bom verão, com boas vivências; embora, infelizmente,  possa acontecer um mau verão, com tristes desilusões. É essencial manter pontos de fuga internos para fazer prevalecer a tranquilidade necessária. Se a realidade de frustrações falar mais alto, há que encontrar nem que sejam pequenas satisfações em momentos de sossego. Afinal, dias longos e noites serenas é o que se espera do verão.

anaeduardoribeiro@sapo.pt