Eu estava em São Paulo na última quarta-feira, quando aconteceu em Suzano, a cerca de 60km da capital, o dilacerante tiroteio numa escola que matou 8 pessoas, sendo 5 adolescentes. E é realmente desesperador testemunhar o tipo de comportamento e de discurso que tomou conta do Brasil no último ano.

A agressividade do discurso de muitos, a falta de qualquer tipo de constrangimento para dizer palavras de intolerância e a imensa quantidade de falas efetivamente criminosas no que tange a racismo, misoginia, xenofobia e sectarismo. Milhares de pessoas — seguindo o bizarro e infeliz exemplo norte americano — perderam completamente a capacidade de dialogar e, acima de tudo, de ter empatia.

Todavia, nem é isso o que mais preocupa acerca o Brasil. O que mais assombra é a total incapacidade de raciocínio que se instaurou. Entre mensagens em massa no whatsapp, fake news e uma mídia escandalosamente manipulada, parece que até mesmo pessoas com alto grau de instrução perderam a capacidade de entender que um mais um é igual a dois.

O massacre ocorrido em Suzano é um resultado evidente da cultura de ódio e da banalização da violência que se espalha pelo país. E, ainda mais óbvio do que isso, é também o resultado de uma política de facilitação de acesso a armas. Mesmo que essa facilitação ainda não esteja efetivamente implementada, o culto às armas e a ilusão de que isso pode ser uma fonte de segurança já se espalha pelo país como uma epidemia.

Armas servem para matar. E ponto. As pessoas mortas nesse episódio não foram assassinadas apenas pelos dois jovens que cometeram o crime, mas sim por todo o sistema que vem sendo implementado e cultuado no Brasil. Um país que elege um presidente que, durante sua campanha segura uma menina de 2 ou 3 anos no colo e a ensina a fazer uma “arminha” com os dedos da mão, também é responsável pela desgraça que aconteceu essa semana.

Mas não. As pessoas perderam a capacidade de entender a dinâmica de causa e consequência. A mentalidade de milhões de brasileiros beira a esquizofrenia. Elegem um governo que promete flexibilizar as leis ambientais e depois choram pelo desastre de Brumadinho. Elegem um governo que promete liberar o porte de arma e depois choram pelo tiroteio na escola Raul Brasil. E não choram por arrependimento, choram por burrice e seguem sem entender que suas mãos também têm vestígios de pólvora.

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