Existe uma oportunidade enorme em levar o conhecimento e a experiência digital ao nível das administrações e dos gestores de topo das organizações. Quando falo de conhecimento digital, refiro-me a saber como, de uma forma muito prática e concreta, se pode criar valor acionista num contexto de surgimento de novas tecnologias omnipresentes nas vidas dos consumidores e nos processos de negócios.

Este conhecimento é muito recente e ainda não está formalizado: são poucos os livros, os cursos ou as formações relevantes sobre ele; advém da prática operacional e de uma curva de experiência alimentada de tentativa e erro; discute-se em fóruns, blogs, meetups; e, acima de tudo, muda a uma velocidade impiedosa. Aquilo que era a melhor prática há dois anos é impensável hoje, pela introdução de uma nova plataforma, de um novo algoritmo, de uma nova tecnologia ou porque, simplesmente, passou a ser feita por inteligência artificial.

Este conhecimento tem, por isso, um grau de obsolescência muito elevado. Como tal, a gestão de topo, quer por uma questão geracional, por falta de exposição ou por falta de oferta relevante, não tem tido acesso a ele e desconhece as possibilidades concretas do digital (tecnologias, plataformas, ferramentas, abordagens, entre outras) aplicadas ao seu negócio.

Este conhecimento é operacional e quem o domina, de uma forma geral, não o sabe decifrar em linguagem de negócio: são perfis técnicos — digital (marketing) managers, data engineers, data scientists, developers — que não têm correspondente conhecimento de gestão para saber como o seu expertise pode impactar, de forma significativa, o negócio das organizações em que trabalham. Muitas vezes, nem sequer têm uma visão clara e abrangente dos desafios de negócio dessas mesmas organizações e vêem, de forma estreita, as ferramentas que dominam como a fórmula mágica para tudo, o que lhes retira alguma credibilidade. E, finalmente, quase nunca têm o peso específico dentro das organizações para fazer acontecer a mudança e despoletar uma agenda de transformação.

A eliminação desta assimetria de conhecimento — conhecimento digital que não existe na gestão de topo e conhecimento de gestão, de negócio e de dinâmica organizacional que não existe nos especialistas digitais — encerra um potencial verdadeiramente extraordinário do ponto de vista da criação de valor. Potencial esse que é muito maior quando o gap é eliminado ao nível da gestão de topo, uma vez que esta integra os decisores-chave capazes de desenhar a visão da organização ajustada a uma nova realidade e de impor uma transformação cultural, de processos e, por vezes, até mesmo do modelo de negócio.

Na verdade, é a eliminação desta assimetria que permite que haja uma efetiva liderança digital, ou seja, quando, ao nível dos conselhos de administração e da gestão de topo, existe o entendimento de como o digital pode ajudar a tornar o negócio exponencialmente mais eficaz e qual o caminho a seguir para essa transformação. Por outras palavras, quando o digital deixa de ser um canal, uma ferramenta de marketing, e passa a ser um verdadeiro facilitador de negócio permite abrir portas a oportunidades de geração de receita, retenção de clientes, otimização de processos, desenvolvimento de vantagens competitivas, entre outras.

Esta liderança digital pode atingir-se através de recrutamento ou da capacitação das equipas existentes e da construção de um ecossistema com um misto de recursos internos e trusted advisors a operar ao nível da gestão de topo.

Na Karma Network temos conseguido, com sucesso, criar um formato de workshop digital para gestores de topo que consiste numa sessão de um dia em que, à luz dos desafios de uma organização e negócio, se identificam oportunidades de negócio de base digital e se exploram formas de as captar.

Este assume-se, normalmente, como um momento revelador em que se torna evidente para um conselho de administração o que o digital pode fazer pelo seu negócio e, sobretudo, de modo concreto e adaptado à sua linguagem, como. É um momento de ignição, em que a direção fica nítida, o caminho começa a esboçar-se e emerge um sentimento de urgência a endereçar que desencadeia a ação.

Uma experiência deste tipo marca o início da construção de uma liderança digital.

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