Poucas coisas terão contribuído tanto para a civilidade da direita portuguesa como a anglofonia dos seus anciãos. Pulido Valente, Rui Ramos e João Carlos Espada, numa geração; Azevedo Alves, Pereira Coutinho e Mendes da Silva na seguinte. Todos, uns de forma mais académica, outros de modo mais cultural, contribuíram para que o debate político em Portugal ganhasse fibra democrática e parlamentarista. Cresceram ou viveram em tempos de uma Grã-Bretanha forte, digna e inspiradora – um conjunto de características que dificilmente se conjugam quando olhamos hoje para a outra margem do Canal da Mancha.
Numa fase em que a nossa direita se encontra em período de introspecção – ou melhor dizendo: à procura do seu lugar –, é relevante perguntarmo-nos até que ponto essas referências britânicas não nos farão falta. Não estou a falar de coletes, papoilas e pudins do Yorkshire; estou a falar de valores. Atualmente, até o Reino Unido parece esquecido deles. Vemos isso no pulsar anti-semita do Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, no desprezo por Westminster de conselheiros do próprio primeiro-ministro, nas constantes perseguições a deputados de ambos os lados da barricada e, inclusivamente, a jornalistas por fazerem o seu trabalho.
Laura Kuessenberg, editora de política da BBC, foi hostilizada durante dias nas redes sociais por ter identificado um homem que gritou com Boris Johnson como ativista labour – algo que, de facto, ele era.
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