O CDS-PP deve olhar muito bem para o estado em que o PSD se encontra.

A capacidade para a autodestruição não é um exclusivo social-democrata e a dificuldade dos partidos tradicionais europeus em segurarem o seu eleitorado e fazerem oposição é uma ameaça a qualquer força política desse espaço. Atualmente, na União Europeia, é difícil sobreviver à ausência de poder porque é difícil dizer algo de novo. Para quem está no governo, como tão bem se vê em Portugal, é mais fácil – mesmo fazendo e mudando muito pouco.

Quando analisamos os dois partidos do centro-direita português – ambos fundadores do regime – estes divergem em tudo aquilo que os relaciona com essa dificuldade em sobreviver na oposição. O CDS, ao contrário do PSD, não vem de um desaire autárquico. E Assunção Cristas, ao contrário de Rui Rio, tem as várias visões do seu partido integradas na sua direção nacional. Cristas reúne o conservadorismo de Nuno Melo, a competência técnica de Cecília Meireles, o liberalismo de Adolfo Mesquita Nunes e o ‘portismo’ de Nuno Magalhães. Até Diogo Feio, um solitário federalista entre os seus pares, preside ao gabinete de estudos do partido. Mesmo entre conservadores, cultiva-se uma saudável convivência entre os mais anglo-saxónicos (Mendes da Silva) e os mais continentais (Rodrigues dos Santos).

Rio, pelo contrário, tem os seus rioístas e nada mais. Quem discordar, é convidado a sair do PSD. Quem concordar, é motivado a purificar ideologicamente um partido que nunca teve grande ideologia. É bizarro, mas interessante, que o CDS seja um pequeno partido com uma estratégia de partido de poder e que o PSD seja um partido grande com uma estratégia de partido de nicho. Rio diz que quer ir buscar votos “aos abstencionistas”, mas talvez ninguém esteja a fazer mais do que ele para aumentar a abstenção. A ideia de que existe uma multidão de gente de “centro-esquerda” magoadíssima com o PS é, no mínimo, sonhadora. A facilidade com que o governo de António Costa apoiou, esta semana, a remoção de Nicolas Maduro é prova disso: o Bloco de Esquerda e o PCP só influenciam a “geringonça” no que interessar ao Partido Socialista.

Face a isso, o CDS não deve cometer com Assunção Cristas o erro que o PSD cometeu com Pedro Passos Coelho: valorizá-la inteiramente somente no dia em que já não estiver. Aí, quando os democratas-cristãos perdessem a sorte de uma líder federadora, dariam pela sua falta? Possivelmente. Mas aí, também o CDS, como o PSD de hoje, poderia dilacerar-se com lutas internas, por lugares e lugarzinhos, ideólogos e ideologias, caciques e distritais. Aí, também o CDS, como o PSD de hoje, teria caminho livre para procurar os seus eleitorados-fantasma, falhando em entender que quem rejeita a pluralidade de um partido nunca representará a diversidade de um país. Aí, também o CDS, como o PSD de hoje, perderia o respeito dos portugueses enquanto instituição.

E era importante não chegarmos aí.

P.S. – Esta coluna elogiou recentemente Hugo Carneiro, secretário-geral adjunto do Partido Social Democrata, pelo seu percurso como quadro do Banco de Portugal e pela sua dinâmica mais jovem. Lamentavelmente, o próprio não tardou a desiludir, insinuando que o seu partido não deveria realizar eleições internas tão cedo devido a dificuldades financeiras. Seguindo o seu argumento, caro Hugo, Portugal ainda seria uma monarquia absoluta.

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