As eleições europeias mais participadas dos últimos 20 anos em toda a Europa não colheram o mesmo entusiasmo em Portugal. Apesar do recorde de 2014, com 66% de abstenção, ser já elevadíssimo, conseguimos piorar a marca. 68% dos nossos eleitores não votaram nestas europeias.

As análises à abstenção estão feitas – têm 5, 10, 15 anos. Não precisamos de passar os próximos dias a fazer novas. O que é preciso é mudar. Precisamos de nos envolver ativamente na política europeia, fazendo uso das cada-vez-melhores ferramentas próprias para o efeito (por exemplo, subscrever esta newsletter, ou esta, ou esta). Precisamos de escrutinar os 21 eurodeputados recém-eleitos, para não depender de rankings quando chegar a vez de voltar a votar. Precisamos de lutar pelo espaço dos assuntos europeus nos media, obrigando-os a olhar para a União de outra forma. Precisamos de obrigar o nosso governo a explicar o que decidiu nas reuniões do Conselho, para que não possa dizer-nos “A” quando lá se bateu por “B”.

A luta pelo envolvimento de Portugal na Europa tem de começar já hoje. Não podemos esperar cinco anos para ver novo episódio desta série deprimente. O futuro do país, a longo prazo, não passa pela Assembleia da República, passa por Bruxelas e Estrasburgo. A qualidade da nossa representação determina a forma como a União Europeia responde aos problemas, e a forma como nós, dentro do bloco, somos tidos em conta. Não é coisa pouca.

Os problemas não foram discutidos, mas eles continuam lá. Aquele que mais discutimos foi mesmo o que não se materializou — a onda “extremista” rebentou longe da costa, com números semelhantes aos que tinha tido em 2014, mas sem o efeito surpresa. Temos cinco anos para resolver problemas tão graves como o envelhecimento e “encolhimento” da população europeia, as alterações climáticas, a regulação da tecnologia, o relançar da economia europeia ou a manutenção de uma ordem internacional estável. O melhor momento para começar é já amanhã, com a cimeira europeia para lançar o processo de escolha dos líderes das instituições. Que venham daí cinco anos de combate à abstenção.

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