Estou no congresso do PSD como convidado, a assistir a discurso após discurso. As pessoas em geral parecem mais entusiasmadas do que no início, mas nada do que aqui aconteceu mudou a minha ideia sobre a capacidade dos novos líderes ou a força do conteúdo dos seus programas. Acredito que neste momento o PSD é a melhor solução para o país, assim como foi tantas vezes no passado. Acredito que vem daqui a única alternativa séria ao socialismo, capaz de levar Portugal adiante e responder aos desafios eminentes, muito para além da cauda onde nos habituámos a estar. Acredito que o PSD é o caminho para o desenvolvimento económico, a justiça social e a resolução dos problemas crónicos do nosso país. No entanto, não percebo nada de política, nem da paixão com que as pessoas falam dos adversários e das estratégias de luta pelo poder. Tenho horror a expressões como “fiquei com o bicho da política” ou “estou aqui por carolice” ou ainda “a beleza do combate político” – pior ainda, o espetáculo montado pela comunicação social nas eleições, com os comentadores do sistema e a apologia do conformismo. Perante este cenário, parece correto afirmar que política é tudo aquilo que tem afastado os melhores gestores do bem público e colocado os espertinhos incompetentes no poder. E confirmo que esta hipótese está correta ao observar quem ganhou as eleições há poucos meses, tanto no nosso país como nesta minha cidade: duas pessoas sem qualidades para governar, com projetos que já provaram ser maus para todos e em quem o povo insistiu em votar. No entanto, tenho esperança e fé em Montenegro e no partido que neste fim-de-semana ressuscita.

Penso em alguns dos grandes discursos da História recente e a maneira como fizeram a diferença no momento certo. A voz marcante de Churchill, que saía dos rádios enquanto os nazis bombardeavam a Inglaterra, foi um farol que indicou o caminho para a resistência e tenacidade do seu povo. Já a entoação de Martin Luther King era como um trovão a exaltar a revolução pacífica dos oprimidos americanos, derrubando muros e construindo pontes que nem a sua morte quebrou. Mas se repararmos bem, temos muito mais do que rádios à nossa disposição hoje em dia: a internet veio trazer o acesso universal à informação ilimitada e o grau de escolaridade média tem crescido muito – por isso é preciso questionar porque ainda precisamos de discursos inflamados para animar as hostes políticas e se não afetam o discernimento democrático para a escolha eleitoral do melhor projeto com a equipa mais competente.

Martin Luther King disse, no seu discurso mais famoso, que tinha um sonho: “que os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos pudessem sentar-se juntos à mesa da irmandade.” Quase sessenta anos depois, na minha infinita insignificância, também proclamo um sonho: que estes discursos deixem de ser necessários para que as pessoas se sintam inspiradas a ter uma participação cívica e decisiva na sociedade; que os cidadãos se preocupem genuinamente com o futuro do país, acreditando que está realmente nas suas mãos apoiar e participar na democracia; que a política seja apenas o serviço desinteressado e altruísta dos governantes como simples funcionários públicos, sem regalias ou estatutos especiais. “Podes dizer que sou um sonhador, mas não sou o único, por isso espero que um dia te juntes a nós, para todos vivermos como um”.

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