Antes de ir aos temas centrais do artigo, começo com dois pontos breves. O convite para Lula discursar na Assembleia da República não melhora em nada as relações bilaterais entre Portugal e o Brasil. Isso é uma justificação que só convence os tontos. Mais uma vez, senhores membros do governo não tratem os portugueses como se fossem uns patetas.

Em segundo lugar, há esta mania de considerar as pessoas que criticam a vinda de Lula como pessoas de “extrema direita.” Devem achar que condicionam a liberdade de pensamento de quem critica Lula. Ou que quem o ataca, está a defender o Bolsonaro. Enfim, são cabeças que não entendem que Lula e Bolsonaro são dois lados da mesma má moeda.

O convite a Lula mostra o modo como o PS lida com a corrupção. O julgamento de Lula foi anulado porque razões processuais, nada provou que Lula e o PT fossem inocentes. Aliás, desde o mensalão até ao Lava Jato, Lula e PT governaram em corrupção quase desde o início até ao fim.

O PS e o PT têm um ponto em comum: pretendem controlar o Estado e transformarem-se em partidos hegemónicos. Isto leva à confusão entre o partido e o Estado. Nesse contexto, a corrupção passa a habitar uma zona cinzenta, onde abuso de poder e corrupção são difíceis de distinguir.

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Mas há um ponto mais perturbador. O convite a Lula pode ser o primeiro passo para a recuperação de Sócrates. Bem sei que a maioria dos portugueses considera o regresso de Sócrates quase impossível. Mas a maioria dos brasileiros pensava o mesmo em relação a Lula até há uns anos atrás. Hoje, é de novo Presidente do Brasil. Será Sócrates uma reserva do PS para as eleições presidenciais em 2026, uma espécie de plano B ou C?

Há uma segunda razão porque Lula nunca poderia discursar nas celebrações do 25 de Abril em 2023. O 25 de Abril de 1974 foi o início de um processo que culminou com a adesão à Comunidade Europeia e com a consolidação da democracia liberal e pluralista. Hoje, em 2023, a maior ameaça à democracia liberal é a guerra de agressão da ditadura de Putin contra a democracia e a liberdade da Ucrânia. Lula é incapaz de condenar o regime de Putin, colocando os dois lados da guerra no mesmo plano. Embora não usando uma linguagem tão radical, a posição de Lula em relação à guerra na Ucrânia é muito semelhante à do PCP.

Como pode um governo de um país da União Europeia, que aprova sanções contra a Rússia, que envia armas para ajudar a Ucrânia, convidar um politico incapaz de condenar uma guerra de ocupação, de conquista, para discursar no dia da liberdade para os portugueses? A resposta a esta questão mostra a radicalização do PS de António Costa. Um partido que não tem qualquer problema em aliar-se ao PCP. Ora, os comunistas continuam a estar onde sempre estiveram, desde 1974 até hoje. Foi o PS que mudou, não foi o PCP, como mostra a reação à guerra na Ucrânia.

Um partido que foi capaz de governar com o apoio de quem defende a ditadura de Putin, convida com naturalidade um Presidente que apoia a mesma ditadura. É muito lamentável que se convide o defensor do ditador Putin para celebrar a revolução que acabou com uma ditadura em Portugal. Precisamente, quando as tropas da ditadura russa matam pessoas inocentes na Ucrânia. Mas foi nisso que se tornou o PS de Costa.