A nossa infância varia: uns viajam mais que outros, os brinquedos diferem, uns brincam muito e outros pouco, os pais são diferentes. Isto faz com que cada criança tenha uma educação e experiências diferentes, contribuindo para o nosso crescimento como indivíduo e para aquilo que nos diferenciará dos outros.
Tudo muda quando se entra no sistema educativo, ou seja, quando se entra para a escola.
Imaginemos uma sala de aula com 25 alunos. Todos têm uma identidade, todos eles são um indivíduo único, com capacidades diferentes. Uns têm uma maior aptidão para as artes e são mais criativos, uns para o desporto, outros para o pensamento crítico, e há até quem tenha uma maior aptidão para decorar. Existem, assim, diferentes tipos de “inteligência”. No entanto, os 25 alunos vão ter o mesmo tipo de ensinamento e o mesmo tipo de avaliação, que têm como base decorar. Existem muitos problemas com este método. Sabemos que decorar não é sinónimo de compreender algo, já que é possível decorar uma frase numa língua que não entendemos, e dizê-la sem qualquer tipo de noção do que significa. É o chamado «decorar e debitar«. Outro problema é o fator sorte. Vamos imaginar que 2 alunos, A e B, estiveram a estudar para um teste em que existem cinco temas, de 1 a 5. O aluno A estudou todos os temas, mas esforçou-se mais no tema 1 e 2. O aluno B, deu uma vista de olhos em todos os temas mas focou-se unicamente no tema 4 e 5. Quando chegam ao exame deparam-se com 3 perguntas, uma sobre o tema 3, outra sobre o 4 e outra sobre o 5. O aluno B acaba por tirar uma melhor nota pela sorte de terem saído perguntas que este tinha estudado/decorado melhor. A forma mais justa de avaliação neste teste seria o teste ter 4 perguntas e os alunos teriam de escolher 3. Só assim seria uma avaliação mais justa num método injusto. Desta forma tanto o aluno A como o B vão ter sempre pelo menos um dos temas que mais estudaram como opção. Mas são obrigados a estudar tudo na mesma, pois irá sempre sair também um dos temas em que menos se focaram.
Os estudantes estão então formatados para um mesmo ensino e avaliação, menosprezando o individualismo e o facto de não sermos todos iguais, causando uma alienação nos mesmos. Muitos veem-se forçados a abandonar o ensino, outros continuam, não pelo gosto do aprender e saber, mas porque querem um emprego e uma vida adulta estável, sobrevivendo a cursos e disciplinas de que desgostam e nos quais não tem interesse, unicamente pelo fim. Ironicamente quando se fazem trabalhos não se pode «copiar e colar», por questões de plágio. Mas, para um aluno ser bem-sucedido, tem de copiar o que o professor transmite na sala de aula e colar no teste/exame.
Ao sermos recortados com o mesmo formato, perdemos qualidades que podiam ter contribuído para o avanço e desenvolvimento do país em diferentes áreas. A criatividade não serve de muito num exame, tal como o pensamento crítico. Da mesma forma que o gosto pelo saber e o de descobrir também não valem de muito num exame sobre um tema que não suscita interesse. Todos estes fatores, que nos diferenciam, nos são retirados e a nossa essência é alterada de forma a sermos todos iguais. Ficamos perante um empobrecimento do coletivo, em que as qualidades que poderiam contribuir para um avanço são perdidas.
Idealmente, cada aluno teria um ensino especializado, introspetivo, contribuindo para o crescimento do estudante como pessoa singular e alimentando as suas qualidades, ou, como é observado pelo ensino de hoje, as suas diferenças. Só assim estaremos perante um coletivo mais diversificado, que permite as pessoas fazerem o que gostam e a seguirem as suas paixões, que desta forma não seriam apagadas.
É mais fácil fazer um ‘puzzle’ quando as peças diferem e não quando são todas iguais. A diversidade e o progresso andam de mão dada, assim como a homogeneidade e a estagnação.