Durante o século passado a economia mundial registou um crescimento continuado, que se traduziu numa importante melhoria das condições de vida da população. No entanto, começamos a observar uma redução, que alguns já consideram preocupante, nas taxas de crescimento das economias mais desenvolvidas e mesmo nalgumas economias emergentes. Começa-se a falar em estagnação e a grande preocupação é se este fenómeno veio para ficar. Será que o crescimento parou? E quais as causas desta desaceleração? Será que as podemos contrariar ou temos de nos resignar a viver em economias estagnadas?

Um trabalho recente avança a hipótese deste fenómeno estar ligado à evolução demográfica. Nas últimas décadas assistimos a um aumento da esperança média de vida e a uma importante redução da fertilidade nas economias desenvolvidas. A importância relativa dos mais velhos na população total aumentou e a percentagem de jovens e crianças caiu compensatoriamente. Usando dados para 21 países da OCDE (Portugal está incluído) este estudo mostra que o envelhecimento da população implica uma redução importante no crescimento do produto, prevendo que na próxima década reduza o crescimento médio em 75%.

O principal canal através do qual o envelhecimento da população reduz o crescimento é uma menor capacidade de inovação. Os resultados mostram que são os trabalhadores dos 20 aos 45 anos que mais contribuem para a inovação. Pelo contrário sociedades mais envelhecidas inovam menos e, sem novas tecnologias, o crescimento acaba.

Uma vez que vivemos mais, a solução para voltarmos a trajetórias de crescimento de longo prazo será um aumento da natalidade e investimento em educação. De início isto implicará custos acrescidos e consequentemente uma redução no produto. No entanto, à medida que esta nova geração inovadora entrar no mercado de trabalho o investimento e o PIB aumentarão.

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De acordo com esta visão, a principal restrição ao crescimento vem do homem e não das máquinas. Sem inventores não há novas tecnologias e sem estas o crescimento estagna. Esta argumentação torna o capital humano o principal motor do crescimento das economias e traduz-se em recomendações de política diretas e simples: é preciso fomentar a natalidade e melhorar o sistema educativo.

Os países do Norte da Europa já estão a fazer isto com excelentes resultados. E nós? O sistema fiscal que temos desencoraja a natalidade e não há memória de a termos alguma vez fomentado. Quanto à educação estamos agora a acabar com a exigência que ainda havia. Parte dos exames existentes vão passar a ser meras provas de aferição e os programas foram simplificados. Proíbe-se ainda as famílias mais pobres de escolherem as melhores escolas para os seus filhos para garantir alunos nas escolas públicas. Será que assim vamos produzir adultos inovadores? Outro grande problema é que aqueles que ainda produzimos estão a ir todos para o estrangeiro. A continuarmos assim podemos anunciar que, de facto, em Portugal o crescimento parou.

Leonor Modesto

Professora Catedrática da Católica Lisbon School of Business and Economics, lrm@ucp.pt