O urbanismo e a sua arquitetura envolvente, têm hoje como pilar o pragmatismo de execução. Tudo deve estar pronto rapidamente, conseguindo com o mínimo dos investimentos atingir o maior dos lucros. O detalhe fica para segundo plano, a paisagem deixa de ser poética e desbrava caminho um cinzento encaixotado, a que chamam de “moderno”. Um moderno que não peca por o ser, mas sim pela descontextualização no meio onde se insere, resultando uma substituição imperdoável de uma realidade histórica aparentemente devoluta.

A nossa história e identidade estão presas por realidades materiais e imateriais. O imaterial passa pela educação e pela cultura – que tantas vezes também escasseiam –, mas não é sobre isso que me irei debruçar. Hoje o tema é o material. Portugal é um país com mais de 800 anos de história; as inúmeras edificações que vão perdurando no tempo, resistindo a épocas e climas diversificados são manifestação viva deste legado. O material carimba a personalidade, a História e as histórias, uma filosofia e a identidade de um povo. É este substrato da identidade que fomenta as viagens e o turismo: conhecer a alma de outros povos pelas suas pessoas, pela sua cultura e paisagem envolvente, seja esta paisagem natural ou produto da mão humana.

Atualmente, impera uma visão globalizada – através de um traço genérico – de como o futuro da arquitetura se vai desenrolar: um traço simples, ecológico, friamente funcional, onde a sua maior (e única) beleza é a utilidade. São muitas as desculpas e as fundamentações para justificar o negócio: “não temos tempo para detalhes”, “não temos dinheiro para materiais”, “o anterior fez pior que eu”, “antes isto que aquilo”… A falta de exigência com que vivemos afeta todos os setores, a paisagem construída não é exceção. Portugal vive de sobras do que ficou, é uma sombra do que foi, espelho do geral paradigma e reflexo do fatídico rumo que o país toma.

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Estamos numa corrida contra o tempo para remendar o que vai caindo aos bocados. O relógio não pára e o mau urbanismo (que afeta e muito a nossa qualidade de vida) prolifera mais rapidamente do que o ponteiro dos segundos. Por incompetência, falta de gosto, insensibilidade, chegámos aqui. Vive-se sedento de beleza, mas não damos tempo para pensá-la. O cinzento da rotina tira a luz à poesia. Tudo à nossa volta vai sendo processado para um efeito básico minimalista, com pouco critério, com pouca beleza.

Muitos dirão que este é um problema menor, entre tantos outros gritantes que se impõem. Mas no meio de tanto barulho, o detalhe é esquecido. E é o detalhe que faz a arte!  Sem ele podemos viver, mas somos mais pequenos.