Podemos olhar o Espaço como os navegadores de quinhentos olhavam o “mar sem fim”. O Espaço é um meio onde todos os sonhos são possíveis, onde todos os desafios podem encontrar respostas, é uma fonte de inspiração. Hoje, no Espaço, deparamo-nos com os mesmos objetivos de antigamente: da Viagem, do conhecimento e do lucro.

Dir-se-á, então, que havia uma mística relacionada com a afirmação de novos valores. Hoje, não vamos “civilizar” marcianos, nem expandir nenhum credo mas, embora confrontados com a finitude do nosso sistema ecológico e a limitação do nosso horizonte terrestre, partilhamos o mesmo espírito de descoberta, o mesmo gosto pela aventura.

De que falamos agora? De investimentos de risco e de elevadíssima incorporação tecnológica, a suscitar conhecimento, inovação, iniciativa, e com uma rentabilidade aliciante.

Veja-se as comunicações por satélite que levam televisão e radio a casa assim como serviços de banda larga aos picos da Patagónia. O uso de tecnologia espacial possibilita todo o tipo de “teleaplicações” em zonas isoladas, tais como a telemedicina, teleducação, televisão e telecomunicações.

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Veja-se o que permitem fazer os sistemas de navegação por satélite como o GPS: aterrar aviões, sincronizar bolsas financeiras e agricultura de precisão. O sistema Europeu Galileo suporta ainda serviços de busca e salvamento e oferece maior robustez e disponibilidade de sinal.

Veja-se os satélites de observação de terra que permitem a deteção remota das condições meteorológicas, monitorização de mudanças climáticas, oceanos e biodiversidade. Mas também monitorização de fogos, vigilância de fronteiras, e suporte a ações humanitárias.

Não há dúvidas sobre a importância presente e futura da atividade espacial numa sociedade de informação avançada, com multiplicidade de meios, canais e plataformas. Os recursos espaciais são apenas uma das peças numa sociedade integrada, interligada e interconectada – cada solução ainda não pensada usará seguramente algumas destas tecnologias ainda que sem saber. O alcance dos benefícios inerentes à atividade espacial é enorme e pouco divulgado. Esta divulgação deve realizar-se de forma contínua e sustentável no tempo, com a participação de todos os agentes implicados, de diferentes âmbitos (escolas, universidades, empresas, instituições, etc.) e com diferentes enfoques (tecnológico, social, humano, etc.).

Dispor de capacidade espacial representa, para um país, poder contar com uma ferramenta para o seu futuro, já que é um importante motor de crescimento económico e tecnológico. O Espaço gera emprego altamente qualificado, é multidisciplinar e assenta na ligação ciência-tecnologia (estimulando a educação, investigação, inovação e industrialização). Os desafios que se põem nesta área são extraordinários e catalisam descobertas como o velcro que depois é aplicado noutros setores. O Espaço tem assim um elevado efeito de arrastamento tecnológico para outras indústrias, um dos maiores retornos de investimento e um peso extremamente positivo na balança comercial, uma vez que foca nas exportações.

As aventuras espaciais exigem esforços demasiado grandes para serem empreendidas por apenas um país e requerem cadeias de valor complexas e muito variadas, por isso o setor assenta cada vez mais em colaborações internacionais e alargadas, institucionais e privadas.

Finalmente, a União Europeia, assim como a maioria dos seus pares, define o Espaço como um setor de importância estratégica que potencia investimento, crescimento e competitividade da indústria Europeia. Exemplos desta estratégia são alguns dos projetos bandeira Europeus tais como o Galileo ou o Copernicus.

Se por um lado é verdade que nos últimos anos se tem produzido um avanço significativo no conhecimento sobre o peso, a relevância e a repercussão da atividade espacial na melhoria das condições sociais, económicas e tecnológicas da sociedade, ainda há um grande caminho a percorrer e todos temos um papel ativo nesta matéria.

Teresa Ferreira é Diretora de Espaço na GMV Portugal