Na terça-feira, após o deputado da Iniciativa Liberal ter falado, António Costa tinha-a engatilhado. “O senhor deputado deixou de ser o deputado da iniciativa liberal e passou a ser o deputado da iniciativa estatal”, atirou, dirigindo-se a João Cotrim Figueiredo.

Não foi, outra vez, o máximo da delicadeza do nosso primeiro-ministro. O que se lamenta por si.

Mas também não foi uma grande tirada. De facto, neste caso qualquer liberal pede a intervenção do Estado, muito simplesmente porque o Estado toma decisões por si.

Quem mandou fechar as fronteiras e os aeroportos? Foi alguma empresa? Não, foi o Estado, atendendo ao que entende por um bem superior. E bem.

Quem mandou fechar os restaurantes, os cafés, os museus, as lojas e as indústrias? Foi algum liberal? Não, foi o Estado, atendendo ao que entende por um bem superior. E bem.

Quem mandou fechar as escolas e as creches? Algum neoliberal? Não, foi o Estado.

Ou seja: há uma situação completamente nova na história das nossas vidas, uma calamidade, o Estado toma decisões e os cidadãos têm que as cumprir. Sejam liberais ou não.

“Não há nada como uma boa crise para transformar um bom liberal num intervencionista. É aliás uma longa tradição dos liberais portugueses”, argumentou, continuando: “assim que a crise chega, Aqui-d’el-rei que venha o Estado”.

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Não, os liberais não são pela intervenção do Estado.

Esse Estado todo poderoso que o primeiro-ministro parece que defende, é o mesmo que tem que aceitar doações das pessoas, livres, preocupadas com o povo em geral. Porque sozinho não consegue prover às necessidades das pessoas. Como o liberalismo não consegue, é verdade.

Esse Estado tão forte é o mesmo que tem que estar a bater à porta da União Europeia, que tantas vezes o nosso primeiro-ministro chamou de neoliberal.

Esse Estado, tão anti-liberal, tem tantas deficiências afinal – na economia, na Justiça, na proteção dos mais velhos. Sim, na proteção dos mais velhos, como se está a ver aqui e em muitos outros sítios.

“Tudo no Estado, nada fora do Estado e nada contra o Estado”. Quem disse isto? Por acaso não foi António Costa. Por acaso nem Catarina Martins. Nem mesmo Jerónimo de Sousa.

Esta tirada célebre é de Benito Mussolini, no discurso do 3º Aniversário da Marcha sobre Roma, em 28 de Outubro de 1925.

O nosso primeiro-ministro, naquelas frases proferidas na Assembleia da República, teve um arroubo, só, mas na verdade extrema-esquerda e extrema-direita muitas vezes aproximam-se. Demasiado, para meu gosto.

Aqui d’El Rei que o Estado pode tudo? Não, não pode. E os liberais aceitam o Estado, uns mais outros menos, é certo, mas em princípio não são anarquistas. O Estado tem funções e deve ter poder, mas se não contar com a iniciativa dos cidadãos e das empresas não vai longe!

PS – O autor não pertence à Iniciativa Liberal, nem nunca se sentiu liberal. Bem pelo contrário, a sua matriz política é de direita e acha que o Estado mínimo não serve. Mas não gosta que um primeiro-ministro dê respostas pouco educadas. Acontece, em tempos de peste…