Notícias recentes dão conta do grave problema que ameaça os nossos alunos. Há muitos professores a reformarem-se ou à beira da reforma e não há profissionais suficientes a entrar na carreira. O amanhã é incerto nas escolas portuguesas. Corremos o risco de não ter professores num futuro muito próximo.

Perante tal situação de alerta, lembrei-me de contar aqui o caso que afetou a minha família nos últimos dois anos. Com um filho a frequentar o ensino secundário no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, fui confrontada com um problema capaz de hipotecar o futuro de dezenas de jovens com 16 anos que se preparam para entrar na faculdade. A professora de Matemática, uma excelente professora pertencente aos quadros da escola, desapareceu no final do 10º ano e não voltou mais a dar à costa.

Dediquei-me então a procurar saber o que se tinha passado com a docente. Primeira notícia: a professora meteu baixa. Pensei que seguramente era uma emergência que a fazia faltar às últimas semanas de aulas de um ano de pandemia. Se calhar até tinha apanhado Covid. Fiquei mais descansada ao perceber que no primeiro dia de férias a professora estava de volta, mesmo a tempo de dar as notas finais aos alunos.

No início deste ano letivo, eis que a professora era a mesma e estava outra vez de baixa. Preocupada com o assunto, comentei num grupo de amigos a situação. E foi aí que comecei a perceber o submundo de alguns professores. Uma amiga recomendou-me explicações com uma excelente professora, que por acaso dava também explicações ao seu filho a estudar numa outra escola. Quando perguntei o nome da fantástica explicadora verifico, estupefacta, que a tal explicadora, com inúmeros alunos nas redondezas, era exatamente a mesma professora. Afinal a baixa é um expediente que usa há muitos anos para montar o seu negócio em casa. Até com alunos que anulam as matrículas no mesmo Pedro Nunes onde a senhora é oficialmente professora, para terem com ela aulas pagas e apresentarem-se a exame.

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Como é possível? Perguntei junto de professores do Pedro Nunes. Ao fazer a pergunta verifiquei que todos conhecem a situação, mas nada podem fazer. A direção garantiu-me mesmo que o pedido de junta médica solicitado pela escola foi antecedido de um telefonema à professora para acertarem a hora da visita.

Conto esta história já depois de ter pedido a transferência do meu filho. O problema dele ficou resolvido, mas não o de dezenas de alunos que ficam com a sua vida, porventura definitivamente, prejudicada pelo comportamento criminoso desta senhora.

Há bons professores? Há. Há falta de professores agora e no futuro? Provavelmente. Mas há, infelizmente, professores como esta senhora, estranhamente desaparecidos das escolas, a receber duplo ordenado. À hora a que está a ler este artigo, há uma professora no centro de Lisboa com um negócio chorudo de explicações em casa, ao mesmo tempo que rouba o Estado e o futuro de dezenas de jovens.

Já não sou jornalista e, portanto, não posso deslindar na imprensa este estranho caso. Mas estou disponível a fornecer elementos a um jornalista interessado em verificar in loco o negócio das explicações.

Espero, entretanto, que o Governo, agora com maioria absoluta, possa olhar para as escolas, para o seu corpo docente e faça uso de todos os meios de fiscalização para evitar estes casos. A verdade é que quando estas coisas nos acontecem verificamos que as famílias ficam completamente impotentes para resolver estas situações. Não é seguramente para isto que pagamos todos a escola pública com os nossos impostos.