António Costa pediu o exorcismo da TAP. O clássico pedido ritual de purificação pela expulsão do mal, isto é, de Belzebu, devolvendo o possuído à sua pureza original.  No caso, a TAP será limpa de toda a conspurcação com que indevidamente atingiu o inocente governo socialista, vítima, porém, das manobras do demo. António Costa, o exorcista, pediu, portanto, o «apuramento da verdade, doa a quem doer».

Creio, a avaliar pela prestação de Christine Ourmières-Widener na Comissão de Inquérito Parlamentar, que a verdade doerá muito a este Partido Socialista. Aos portugueses, sabemos todos, doeu 3.2 mil milhões de euros. Aos funcionários da TAP com cortes salariais também terá doído. E aos despedidos… No entanto, a reversão da privatização da TAP pelo PS, isto é, a nacionalização de uma «empresa imprescindível para os portugueses» seguida da reestruturação para privatização da mesmíssima empresa pelo mesmíssimo PS, também serviu para aumentar significativamente os rendimentos de alguns, a colocação de outros tantos, e para uma gestão com interferências do accionista Estado, opacas, que são em tudo o oposto daquilo que deveriam ser, desde a informalidade dos contactos à nebulosa dos contratos.

A escabrosa promiscuidade que o caso TAP revela, expõe e confirma, se dúvidas houvesse, o modo de funcionamento deste governo e a sua total desfaçatez: afinal, a 17 de Janeiro, na véspera da audição pela Comissão de Economia, Christine Ourmières-Widener terá sido chamada a reunir com elementos dos ministérios de Infraestrurutras e Assuntos Parlamentares, e membros do grupo parlamentar do PS para preparar essa audição. A saber, Eugénia Cabaço, chefe de gabinete de João Galamba; Ana Filipa Ferreira, da equipa de Ana Catarina Mendes, e Carlos Pereira, deputado socialista. Este último, presente nessa reunião, no dia seguinte interrogou Christine Ourmières-Widener na referida Comissão de Economia. E é agora o coordenador socialista na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.

Só este condicionamento da narrativa, ou pelo menos a sua tentativa, pela reunião de membros do governo com o gestor público, daria sinal da clara indistinção que este PS no governo faz entre si e a coisa pública, numa actualização inequívoca de «l´ État c´est moi» para l´État c´est à moi. Resta saber se, na senda de Luís XIV, também a lei é o PS.

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Não sei se esta situação não será reduzida pelo PS a mais um «caso e casinho da bolha mediática». Mas sei que em cada um destes «casos e casinhos» percebemos a nossa caminhada em direcção à pobreza: o nosso PIB per capita é de 77% do da média da União Europeia. Estamos em 6º lugar a contar do fim. Isto é um facto.

Pode o PS fazer os exorcismos que quiser no fim de cada «caso e casinho» para se libertar da responsabilidade que lhe cabe em cada um deles, encontrar os bodes expiatórios convenientes, seja dentro ou fora das suas fileiras. Já não há ritual que o purifique. Não há OMO que lave isto.

A autora escreve segundo a antiga ortografia