Independentemente do que venha a acontecer na Grécia, já se podem tirar algumas conclusões válidas para Portugal. Em primeiro lugar, o que esteve em causa nos últimos quatro anos foi a manutenção de Portugal no Euro. Nem mais nem menos. Houve sempre uma enorme relutância em assumi-lo – ainda há – mas foi essa a luta travada pelo governo português, ironicamente contra muitos que defenderem com grande fervor a adesão de Portugal ao Euro. Tal como muitos outros países da zona Euro, Portugal está a fazer agora o que devia ter feito no final da década de 1990, mas não fez: preparar o país para participar numa zona monetária com países como a Alemanha e a Holanda. Os juros baixos e a euforia dos mercados permitiram adiar o inevitável. Mas, em 2011, o inevitável chegou (o nome oficial foi “troika”).

Os portugueses devem perceber um ponto fundamental: se quisermos continuar no Euro, teremos que fazer mais reformas. Podemos continuar a culpar os mercados, a Alemanha, o FMI, o governo, o que quisermos, mas a realidade não muda. Quando aderiu ao Euro, Portugal não estava preparado para o fazer. Estamos melhor preparados agora, mas o trabalho ainda não acabou. Espero que sejamos capazes de fazer o que é necessário sozinhos, e sem visitas periódicas de funcionários da Comissão Europeia, do BCE e do FMI. Seria um grande orgulho mostramos que não precisamos de ajuda externa para nos governarmos.

Em segundo lugar, um governo minoritário e instabilidade política após Outubro tornaram-se perigos ainda maiores. Os problemas na Grécia levam os mercados – os financiadores do nosso ‘Estado social’ – a prestar muito mais atenção a qualquer sinal de instabilidade política. O grande desafio para a dupla Passos/Portas será tentar convencer todos aqueles que ficaram furiosos com o atual governo a votar na coligação em nome da recuperação e da estabilidade. Será muito difícil, mas não há outro caminho. Se não houver maiorias absolutas, a coligação e o PS terão que se entender após as eleições. Os ataques e o combate político fazem parte da campanha eleitoral, mas será fundamental que os líderes preservem a margem suficiente para entendimentos pós-eleitorais, de governo ou parlamentares, desde que garantam estabilidade e o programa necessário para continuar a recuperação económica e social. Sem uma maioria absoluta, Outubro será o tempo do pragmatismo. Se isso não acontecer, Portugal ficará mais próximo de um segundo resgate. Ninguém tenha ilusões que não será assim.

Um segundo resgate significará mais austeridade. A terceira lição do que se passou com a Grécia foi assustadora: é sempre possível mais austeridade. E normalmente aqueles que mais combatem a austeridade, através da negação da realidade, apenas a agravam. Mais uma vez, António Costa está no topo das reações mais extraordinárias ao acordo com a Grécia. Elogiou “Hollande por ter mantido a Grécia no Euro” e atacou “a Alemanha e a direita” pela tentativa de expulsão dos gregos. Será que Costa leu as conclusões da Cimeira dos líderes da zona Euro? Aquelas conclusões são o maior programa de austeridade jamais imposto a algum país da zona Euro. Ninguém me pode acusar de concordar com Varoufakis, mas por uma vez estou de acordo com a sua descrição do acordo como um “segundo Versailles”. Ou seja, o líder do PS ataca a “austeridade” em Portugal, mas defende um nível de “austeridade” muito maior na Grécia.

O governo alemão e sobretudo Merkel ganharam mais uma vez. Introduzindo o tema da “suspensão da Grécia da zona Euro por cinco anos”, deslocaram o debate para muito próximo das suas posições. Ao fazê-lo, obrigaram o socialista Hollande (e o nosso António Costa) a promover um programa de austeridade que nem os alemães defendiam há duas semanas; e que se algum socialista defendesse há uma semana seria excomungado da família. A crise grega levou Merkel a transformar Hollande no grande campeão da austeridade. Nem Schauble acredita em tanta austeridade. Claro que Hollande, na boa tradição francesa, bate os alemães nos talentos retóricos, e chamou à máxima austeridade imposta à Grécia “solidariedade europeia”. No meio de tantas preocupações, fiquei com uma garantia: se um dia for PM, Costa aceitará todo o tipo de austeridade para manter Portugal no Euro. E contará certamente com a “solidariedade” dos socialistas franceses.

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