Quem são os pais que não esperam um futuro risonho para os seus filhos? E quem são aqueles que não trabalham para que os filhos tenham os instrumentos que os tornem mais audazes, mais autónomos e mais capazes de ter sucesso? Quem são os pais que não esperam que os filhos tenham uma vida melhor que a sua, evitando os seus erros e aproveitando as oportunidades para serem mais felizes?

E, no entanto, há uma ideia no ar que insiste que a vida que espera os nossos filhos no futuro será pior! Com mais dificuldades. E com menos recursos. Como se, por um lado, lhes disséssemos: “Sim, trabalha, hoje, para que o teu futuro seja melhor”. E, por outro, alguém lhes lembrasse: “Nada de ilusões; o futuro é uma porcaria!”.

Entretanto, escutam-se por aí muitas perspectivas sombrias a propósito da situação económica. E, a respeito das crises alimentar, energética e ambiental globais. E das desigualdades sociais; que se acentuam. E fala-se, até, de uma tempestade perfeita. Muitos alertam para a recessão e para as convulsões que aí vêm. E, de repente, a “porcaria” do futuro não é um vislumbre que se dilate no tempo. Mais dia menos dia, ela chega “amanhã”.

Mesmo assim, nós insistimos que eles estudem. Que poupem na adolescência que deviam ter. E que trabalhem! Damos-lhes escola e oportunidades. Mas massificámos o seu crescimento. E parecemos estar a transformá-los em “produtos normalizados”. Como se o sacrifício, a disciplina, a perseverança ou a paciência não coubessem naquilo que eles ambicionam. Mas sendo o futuro como nós lho “vendemos”, como não hão-de eles querer viver, no imediato, a vida toda num instante?

Perguntam-me: mas não havemos nós de lhes falar verdade? Sim!! E é verdade que o futuro parece uma “porcaria”. Mas eles não esperam que lhes anunciemos as sombras. Olham, antes, para aquilo em que acreditamos, que os ilumine. Não precisam que lhes lembremos os perigos. Anseiam escutar-nos sobre a forma de os vencerem!

Para que é que servem os pais: para validar um futuro “de porcaria” ou para o arrojo de lhe fazer frente em cada “vamos por aqui!”? Como podem acreditar no futuro se temos medo dele? Como podem acreditar em nós se (pelos vistos) mal acreditamos neles, no futuro?…

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