Quantas pessoas se esfarrapam a combater o impossível? A combater dentro de relações tóxicas, a lutar contra o tempo para finalizar trabalhos intermináveis que lhes são pedidos, a esforçarem-se para superar limites intransponíveis? Até quando deve insistir-se em esticar a corda sem correr o risco de a rebentar?

Se é importante ter garra para lidar com as dificuldades da vida e ultrapassar limites, sobretudo psicológicos, que podem entorpecer o crescimento e desenvolvimento pessoal, ter noção de quando se deve parar é imprescindível. Pala saúde física e mental. Não é realista aguentar um peso de 1000 kg.

Em prol de quê se procura superar os próprios limites? A ideia de se ser um super herói pode ser atraente mas perigosa.

Lutar para manter relações é bom mas sujeitar-se a situações de desgaste excessivo e estéril não. Então casos de abuso e violência, são contextos para intervenção jurídica. Relações desequilibradas, sem a presença do respeito mútuo, ausência de cumplicidades e postura de co-construção tornam-se insustentáveis. Importante não confundir “é uma fase”  com um estado contínuo de  convivência não saudável.

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Aceitar acumular excesso de trabalho e tarefas fora de horas, em prol de um brio profissional, é outro modo de se anular e  não reconhecer a inviabilidade de dar resposta a tudo. Ser exemplar não passa por não dizer Não perante o impossível de se fazer, nem por contrapor chefias que fazem exigências estapafúrdias. Por estas dificuldades, assistimos ao crescimento de casos de burnout.

Correr em excesso, mais do que o corpo aguenta, para além de provocar lesões nos joelhos, faz mal a outras articulações, aumenta a produção de radicais livres e  logo, o envelhecimento precoce. O desporto é mais do que recomendável para manter o organismo saudável, o célebre lema corpo são/mente sã, mas há metas impossíveis de alcançar.  E ter essa noção, sem cair no ritmo obsessivo do overtraining, é fundamental para não cair literalmente para o lado.

Ideais de omnipotência desvirtuam a leitura da realidade. Deturpam a capacidade de pensar e distinguir o viável do inviável. Ser capaz de aceitar os nossos próprios limites e nossa impotência (humana) perante um mundo maior do que nós, protege-nos de um dito pensamento mágico. Não podemos mudar a realidade à nossa volta, mas sim, podemos adaptar-nos a ela. Não ganhamos nada em construir expectativas desfasadas. Tê-las só traz frustração perante a impossibilidade de conseguir resultados desapropriados. Há que aceitar as falhas e os erros. Aprender a ajustar o que é possível e alcançável. Há que manter o discernimento que não somos máquinas programadas ultra eficientes com tudo. De facto, por mais que se deseje, não é possível o que é impossível.

anaeduardoribeiro@sapo.pt