O título deste artigo é na verdade uma citação de John Fitzgerald Kennedy, que fica mais completo do seguinte modo: “O inimigo da verdade não é a mentira, é o mito, o teimoso apego aos chavões dos nossos avós, o conforto da opinião sem o desconforto do pensamento”. JFK pronunciou esta frase quando pretendia implementar nos Estados Unidos da América um programa de cortes fiscais que ia contra aquilo que era a opinião dominante da sociedade americana da altura.

Lembrei-me desta frase quando participei numa tertúlia organizada pelo Instituto Mises Portugal no dia 22 de Fevereiro na Universidade Católica Portuguesa que teve como principal orador o Professor André Azevedo Alves (AAA). Neste evento encontrava-se o líder da Iniciativa Liberal (IL), que usou da palavra para dar conta da sua ambição de que a Iniciativa Liberal possa um dia participar de uma solução de governo, mas ressalvando que provavelmente não será sob a sua liderança. André Azevedo Alves, por seu lado, mostrou-se bastante céptico, notando que as pessoas votam de forma muito conservadora, arriscando pouco, muitas vezes influenciados pelos pais e avós, como se nota olhando para a composição do nosso parlamento ao longo dos anos.

Ninguém discordará de AAA. De facto, com a excepção recente do PAN, e mesmo apesar de todo o descrédito da classe política, não é fácil a uma força politica nova entrar no parlamento português. Do que necessitam então os liberais para ganharem a confiança do número suficiente de portugueses?

Em Portugal criou-se o mito, alimentado sobretudo pela esquerda e por alguma comunicação social, que ser liberal é ser inimigo dos mais pobres e desfavorecidos, é querer acabar com o SNS e a escola pública, é ser egoísta e pouco solidário. Só que, tal como diz JFK, “o inimigo da verdade não é a mentira, é o mito”, pelo que cabe aos liberais, quer aos que se revêm na IL como os que estão noutros partidos, acabar com este mito. Precisam de mostrar as vantagens, sobretudo para os mais pobres, de uma escola pública exigente que funcione a par com escolas privadas, que o seu acesso seja facilitado pela livre escolha dos pais, de uma ADSE que não seja um exclusivo dos funcionários públicos mas sim uma opção para todos os portugueses, para que estes tenham um leque mais variado de opções quando recorrem a serviços de saúde, de um corte de impostos para famílias e empresas que promova o investimento e a criação de riqueza e emprego.

O caminho não será fácil, mas com o recente aproximar de posições entre PSD e PS abriu-se uma janela de oportunidade para aqueles que querem uma alternativa real à “geringonça”. CDS e novas forças políticas têm aqui o seu momento, cabe-lhes abrirem-se mais à sociedade e não falarem em circuito-fechado. Devem sobretudo não teorizar demasiado e responder aos anseios da população, abordando temas como a natalidade, a segurança social, a carga fiscal, a saúde e aeducação. Estes são temas que seguramente interessam à maioria das pessoas que não estão disponíveis para lerem programas partidários mas querem saber quais são as alternativas que existem ao presente estado de coisas.

A reforma do Estado Social é inevitável. Com o envelhecimento da população e com o avanço da medicina os custos com a saúde e pensões serão insuportáveis, como insuportáveis serão também os impostos que serão lançados para tentar disfarçar o óbvio. Por isso os contributos de novas forças políticas terão aqui um papel a desempenhar e uma oportunidade para convencerem os portugueses das vantagens das suas propostas, assim as tenham e as saibam comunicar.

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