Os riscos energéticos que se colocam à Europa depois do verão são importantes, mas não são impossíveis de superar.

A redução das importações energéticas vindas da Rússia pode ser difícil de gerir no próximo outono e inverno, principalmente para a Alemanha, que é um dos países europeus com maior dependência da energia russa. As autoridades alemãs têm mesmo vindo a alertar para a eventual necessidade de parar algumas produções não essenciais, se se agudizar significativamente a crise energética.

Mas a Alemanha não é caso único. Por isso, entre outras medidas para enfrentar o próximo inverno, os Estados-Membros aprovaram uma proposta da Comissão Europeia para reduzir o consumo de gás em 15%, com exceção dos Estados-Membros que não têm ligações ou têm reduzidas ligações energéticas ao resto da União Europeia.

Todavia, se a severidade dos riscos no curto prazo não deve ser depreciada, também é verdade que se prevê, no médio e longo prazo, que as tendências no que diz respeito à dependência energética na Europa sejam positivas.

O BCE estima, no mais recente boletim económico, que um aumento permanente dos preços petrolíferos em 40% teria um efeito de descida do PIB potencial de apenas 0,2 pontos percentuais em média por ano, ao longo de 4 anos. Acresce que a dependência do petróleo, em geral (e não apenas vindo da Rússia), poderá diminuir mais rapidamente nos próximos anos à medida que as novas tecnologias, em particular nos transportes, utiliza cada vez mais a eletricidade.

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Neste cenário, a dependência do gás, também como input na produção de eletricidade, torna-se mais relevante. Porém, segundo dados do BCE, em junho deste ano as importações de gás da Rússia já tinham diminuído quase dois terços face a junho de 2021 recorrendo a fornecedores alternativos, reforçando em particular a utilização de gás natural liquefeito.

É natural que continuar a substituir gás russo por outras fontes se vá tornando mais difícil, especialmente no inverno. Mas é também importante reconhecer que a eficiência energética na Europa tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. A história mostra que a atividade de geração de energia é moldada tanto pela evolução tecnológica como por fatores políticos. A tecnologia tem evoluído no sentido de uma maior eficiência, quer na geração quer no consumo. O Eurostat indica que, entre 2011 e 2020, a intensidade energética da União Europeia, isto é a quantidade de energia medida em gramas petróleo (ou equivalente) por euro de PIB, diminuiu 16%. A Alemanha, embora estando entre os países europeus mais dependentes da energia russa, encontra-se também entre os mais eficientes. Esta tendência decrescente deverá manter-se nos próximos anos, graças em particular ao reforço dos fundos europeus para a transição verde, que apostam não só nas energias renováveis, mas também no decréscimo do desperdício e no desenvolvimento de tecnologias mais eficientes.

Assim, apesar das dificuldades energéticas do próximo inverno serem consideráveis, de facto, no médio e longo prazo a dependência energética externa da Europa poderá diminuir significativamente, o que é positivo quer do ponto de vista ambiental quer do ponto de vista político.

A prioridade nos próximos meses passa não só pela adoção de medidas técnicas para fazer face a possíveis faltas de energia, mas também por assegurar uma certa unidade entre os Estados-Membros na reação à crise. Para isso, será crucial salvaguardar a distribuição proporcional, justa e eficiente dos custos das medidas que sejam necessárias, designadamente as que impliquem cortes de consumo de energia. Só assim é possível evitar que uma crise energética se transforme numa crise política europeia.