Todas as quintas-feiras à noite, em muitas partes do mundo, reúnem-se colegas de trabalho em estabelecimentos de diversão vespertina para cantar uns para os outros. Um elemento característico destas cerimónias é o momento em que alguém se levanta para repetir a conhecida cantiga “My Way.” Nesta canção, alguém que pressente a chegada do fim confessa que os dissabores que experimentou durante a vida são atenuados pelo facto de ter cometido várias acções à sua maneira. É essa coragem, conclui, que o parece distinguir das outras pessoas.

A cerimónia sugere alguém a repetir o que outra pessoa disse, nomeadamente que faz as coisas à sua maneira. Estará porém quem repete a fazer as coisas à sua maneira? Do ponto de vista artístico, e na maior parte dos casos infelizmente, estará. Para conseguir fazer as coisas à sua maneira tem todavia também de fazer as coisas à maneira de outras pessoas; neste caso à maneira de quem tinha ouvido antes cantar a cantiga “My Way.

A maior parte da nossas práticas e opiniões são primas direitas destas cerimónias de quinta-feira à noite. Nem todas são um entretenimento pós-laboral: muitas são as causas, conversas, opiniões, teorias políticas e científicas que nos importam mais. É nelas que achamos remédios para o mundo, e diagnósticos para os outros. A situação levanta problemas que têm preocupado alguns filósofos: quais são as condições necessárias a que um problema seja realmente meu? E as suficientes para que eu não esteja a repetir um problema dos outros? Em que consiste pensar pela nossa cabeça? Como é que distingo os meus problemas de problemas que repito para entretenimento e aprovação alheios?

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