Reconheço que me incomoda que se fale do “lado feminino” dos homens. Porque, muitas vezes, isso vem acompanhado com alguma condescendência que faz de alguns homens… “uns queridos”. Como se tanta docilidade fizesse deles “pouco homens”. E porque quase dá a entender que aquilo que os homens têm de mais bonito é qualquer coisa que contraria o seu ADN (como é insuportável esta ideia biológica de destino tão em voga!). Isto é, como se a grande qualidade que os distinga fosse… feminina. E nada mais.
Ora, se isso quer dizer que há “homens sensíveis”, eu gosto do “lado feminino” dos homens. E se esse “lado feminino” corresponde ao jeito bondoso e cuidador de alguns homens, eu gosto dele. E se, para mais, ele vier acompanhado dum lado bem educado, eu gosto do “lado feminino” dos homens! Mas, desculpem, estranho que a única coisa que os homens tenham de bonito seja um “lado… feminino”. Que parece não ser um “equipamento de série” de todos os homens. E, desculpem, é! Pode ter sido muito reprimido, porque a educação do homem é, também ela, sexista. E foi. Pode ter levado a que muitos rapazes se tivessem sentido na obrigação de censurar as lágrimas e a tristeza, como se isso os tornasse menos “machos”. E levou. E pode ter empurrado muitos homens para a convicção que ser forte é “amarrar-se” aquilo que se sente. E também aconteceu. Mas, “o lado feminino dos homens” é – só! – o “lado masculino” de amar e de cuidar. Sem “lápis azul” e sem censura. Mais nada do que isso.
Às vezes, com uma ironia discutível, os próprios homens não ajudam, quando se trata de falar daquilo que sentem. E, em linguagem de balneário, a propósito da forma como se entregam (com fé de guerreiros) a tudo o que acreditam, falam de como é bom terem alguma “estupidez natural”. Que é um gosto muito pouco mastigado de irem atrás duma convicção, batalharem por ela e rejubilarem de felicidade quando a conquistam.
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