Tenho por base dizer, no abstrato, que há uma assunção de responsabilidade que acaba sempre no líder para toda e qualquer questão da sua equipa.

Mas, na realidade, isto funciona muitas vezes com efeito boomerang. Acaba-se como responsável por muito quando, na realidade, não se é, de facto, responsável. Verdade, queira-se ou não. Mas verdade também que é uma espécie de it comes with the condition. Já que estar líder não é um trabalho, no sentido clássico, pelo que não será it comes with the job.

Dito isto, e fazendo desde já uma chamada de atenção para os mais desatentos, que tendem a ler o que escrevo de forma diversa da que efetivamente escrevo, será bom criarmos algumas balizas de responsabilidade nestas coisas. E quanto mais se avança no tema liderança e mais se escreve sobre ele, mais problemas temos em matéria de limitação dessas mesmas responsabilidades.

Porque, é bom dizer e sublinhar, as responsabilidades não são infinitas. Senão daqui a nada corre-se o risco de as lideranças serem responsáveis por tudo e nada.

O colaborador faltou. Sim, responsabilidade da liderança que não o incentivou a comparecer.

O colaborador levantou a voz. O líder é o responsável porque o exasperou.

O colaborador perdeu 3 horas no almoço e chegou atrasado a uma reunião. O líder é o responsável porque não lhe explicou bem que a reunião era crucial.

O colaborador não produz o que era expectável. O líder é o responsável porque tem de lhe pagar mais.

E, no entanto, o colaborador nem sonha o número de pinos que a sua liderança fez para que percebesse que também há uma responsabilidade sua, responsabilidade essa que procurou que ficasse demonstrada ao procurar dar o exemplo consecutivamente e, mesmo estoirado, nunca falhou uma comparência, deu-se inúmeras vezes à equipa, em tempo seu e na tentativa de ajudar os seus colaboradores até com problemas pessoais, estimulou o liderado dando-lhe formação, informando-o, partilhando com ele dores do negócio e, inclusive, pediu desculpa sempre que achou, em consciência, que porventura terá feito algo menos adequado. Pediu desculpa, sim, e agradeceu sempre os esforços dos seus colaboradores que estão conscientes, pelas múltiplas informações e até pela transparência da liderança, de quais as reuniões efetivamente prioritárias. Inclusive explicou demasiadas vezes que volume de vendas não é margem e que a margem, feitas as contas, não permite, com os encargos assumidos, fazer grandes aumentos salariais sem perder dinheiro e sem comprometer a viabilidade financeira da empresa. E demonstrou isso mesmo ao colaborador.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Dito isto, as lideranças têm limites na assunção das responsabilidades. Feitas as coisas como devem ser feitas, as lideranças não são responsáveis por faltas, pela inconsciência dos seus colaboradores nem tão pouco pelos seus problemas pessoais. Mais, não são muitas vezes responsáveis (não disse todas as vezes) por não conseguirem pagar mais. Porque não conseguem mesmo e não o fazem por falta de vontade.

Ora o mundo e a ilusão que se criou levaram a que o líder trabalhe para os seus colaboradores e liderados como se estes, muitas vezes, só tivessem direitos. E também, já agora, o direito de ter um líder à altura. E se não existe o líder à altura pois que se troque o líder.

Tudo isto para dizer que concordo, em absoluto, que há claramente uma crise de lideranças. Mas quero reforçar que cada vez haverá mais. Mais ainda enquanto imputarem ao líder responsabilidades que não são efetivamente, nem podem ser-lhe, imputadas.