Algo não bate certo nesta pandemia, sendo legítimo perguntar se a extrema gravidade da atual crise se prende apenas com a agenda do vírus SARS-CoV-2, ou se envolve agendas mais obscuras. No prestigiado British Medical Journal (BMJ), é referido que “o medo público relativamente ao Covid-19 foi elevado a níveis totalmente desproporcionais face ao perigo real” (King, 2020) e que “a pandemia revelou como o complexo médico-político pode ser manipulado numa emergência [sendo este] um momento em que é ainda mais importante proteger a ciência” (Abbasi, 2020).

Realmente existem múltiplas situações que urge esclarecer. Qual é, afinal, a verdadeira taxa de mortalidade da doença Covid-19 a nível global? Convenhamos que há uma grande diferença entre os cerca de 2,3% das versões oficiais e os números apontados em recentes estudos científicos. Por exemplo, o Prof. John Ioannidis situa a taxa de mortalidade desta doença no intervalo 0,00% – 0,57% (0,05% para pessoas com menos de 70 anos). É intrigante que estes últimos números, embora provenientes de um credível estudo revisto pelos pares (Ioannidis, 2020), não tenham sido noticiados nos principais órgãos de comunicação social, isto apesar deste mesmo estudo ter sido publicado no boletim da própria Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apesar das relativamente baixas taxas de mortalidade, ninguém duvida que estamos perante um vírus maquiavélico, cujo período de incubação (tempo que decorre entre a infeção e a manifestação de sintomas) ultrapassa o período de latência (tempo que decorre entre a infeção e a capacidade de contágio). Assim, durante os primeiros dias da infecção, o SARS-CoV-2 é propagado sem que os indivíduos infetados tenham quaisquer sintomas. Por outras palavras, este vírus é uma “máquina de sobrevivência” tão eficaz que, para além de manter viva a esmagadora maioria dos seus portadores, torna-os inicialmente assintomáticos para que todos eles o possam replicar sem quaisquer obstáculos.

Assim, não espanta que sejamos diariamente informados da existência de milhares de novos indivíduos infetados. No entanto, os casos realmente contagiosos talvez não estejam a ser bem contabilizados. Na verdade, diversos cientistas denunciam que os números em questão poderão estar a ser largamente inflacionados devido à massificação do uso do teste PCR (Polymerase Chain Reaction), considerando mesmo este teste como sendo inapropriado para o diagnóstico pretendido. Segundo pode ler-se no BMJ, “[o teste PCR] amplifica segmentos virais não-infeciosos” e “reage de forma cruzada com os nucleótidos de vírus não-Covid” presentes no trato respiratório dos indivíduos testados (King, 2020). Na prestigiada revista médica “The Lancet”, é também referido que “a crescente inclusão de pessoas assintomáticas afeta [um parâmetro-chave] que sustenta a veracidade da estratégia de teste”, sublinhando-se que “os resultados falso-positivos do teste [PCR] podem ser cada vez mais prováveis” (Surkova et. al, 2020).

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Claro que é importante testar o maior número possível de pessoas, mas apenas no caso de tais testes serem fiáveis e for possível confiar nos respetivos resultados. Por exemplo, para se poder acreditar nos resultados de um teste PCR é indispensável saber qual o fator de amplificação que está a ser utilizado na replicação dos fragmentos virais recolhidos no esfregaço nasal e da orofaringe. Só assim será possível estimar a quantidade de falsos positivos e negativos existentes nas amostragens em massa que se tenciona continuar a realizar. Ora, sem conhecer o verdadeiro número de casos problemáticos (com potencial de contágio) é impossível pesar os prós e contras da prevista inoculação de praticamente toda a população mundial, ainda por cima quando estamos a falar de vacinas nunca vistas e que deverão ser aprovadas em tempo recorde.

A quem poderá interessar a realização de milhares de milhões destes testes? Como é referido no BMJ, a primeira etapa para responder a esta importante pergunta é a divulgação completa dos interesses concorrentes do governo, políticos, consultores científicos e nomeados, como responsáveis pela aquisição de testes de diagnóstico e entrega de vacinas. As pessoas com conflitos de interesses não devem estar envolvidas nas decisões sobre produtos e políticas nos quais tenham interesse financeiro (Abbasi, 2020).

É óbvio que estamos psicologicamente frágeis e numa situação propícia a aproveitamentos políticos e comerciais. Como alerta Bollyky (2020), “a pandemia é um ponto de entrada para governos autocráticos mudarem as leis e introduzirem restrições. O populismo e o nacionalismo alimentam-se da ameaça do vírus e questionam a confiabilidade da ciência e da informação”. Assim, face à complexidade deste período em que vivemos, toda a ajuda é pouca e, obviamente, precisamos de fazer boa ciência em vez de a suprimir.

Como nos ensinou o saudoso Carl Sagan, “a ciência é como uma vela acesa na escuridão” (Science as a candle in the dark. The demon-haunted world, Random House, 1995) e precisamos de fazer incidir mais luz sobre este assunto. Como sabemos, a pressa é má conselheira e quando nos preparamos para inocular fragmentos de código genético viral no maior número possível de organismos humanos, convém não suprimir as vozes científicas discordantes. Ora, há fortes indícios, para não dizer provas concretas, de que tal supressão está em curso ao mais alto nível. Por exemplo, há publicações científicas muito credíveis, tais como o BMJ e a revista Nature, onde podemos observar vigorosos desmentidos da narrativa dominante de que as pessoas não desenvolvem uma efetiva imunidade depois de serem infectadas com os coronavírus.

No BMJ é perentoriamente afirmado que “a imunidade ao SARS-CoV-1 é muito durável, persistindo por pelo menos 12-17 anos [e] os imunologistas sabem que a imunidade ao SARS-Cov-2 não é diferente”, acrescentando-se que isto “é confirmado por muitos cientistas eminentes” (Abbasi, 2020). Ainda contrariando a narrativa generalizada, que vai precipitando as decisões políticas nesta matéria, pode ler-se, na também prestigiada revista Nature, que “a descoberta de que os pacientes recuperados de Covid-19 e SARS podem desenvolver respostas [imunitárias] sugere que uma infecção anterior por SARS-CoV pode induzir células T capazes de apresentar reação cruzada contra a SARS-CoV-2.” (Bert et. Al, 2020).

A agenda do SARS-CoV2 é perigosa, mas creio que não são menos perigosas outras eventuais agendas cujas páginas apresentem apontamentos científicos escolhidos a dedo. No BMJ, são referidos vários exemplos de um tal enviesamento, que leva à “supressão da ciência em prol de ganhos políticos e financeiros” (Abbasi, 2020). Ainda neste jornal científico, aponta-se que “o sequestro da ciência por interesses investidos resultou em danos incomensuráveis para a sociedade” e que “os confinamentos, destinados a salvar vidas, mas impulsionados por narrativas que têm pouca base científica, já causaram perda de vidas, meios de subsistência, dignidade e humanidade” (King, 2020).

É verdade que o SARS-CoV-2, quando comparado com o vírus da gripe, aumenta muito o número de hospitalizações e mortes em pessoas com mais de 70 anos (Peterson, 2020). Obviamente que o impacto humano e emocional de assistirmos à luta pela sobrevivência de entes queridos, isolados dos seus familiares em apinhadas unidades de cuidados intensivos, é terrível e tremendamente assustador. Sem dúvida que todos ansiamos colocar um ponto final neste pesadelo. No entanto, isto não pode ser pretexto para começar a disparar testes inadequados e agulhas demasiado velozes em todas as direções, sem bases científicas sólidas para o poder fazer.

Posto isto, a moral da história é que precisamos de concentrar recursos na preparação dos nossos sistemas de saúde. Caso contrário, continuaremos a sofrer consequências dramáticas. Com o discernimento político suficiente, fundamentado no conhecimento científico, o colapso económico produzido pelos confinamentos poderia ser evitado, sendo que estes acarretam consequências ainda mais graves do que o próprio vírus.

Concluindo, parece-me ser claro que temos razões para pensar duas vezes e exigir o escrutínio científico rigoroso de tão importantes matérias. Acredito que só através da melhor ciência será possível vencer este vírus e os seguintes, sem que daí advenham males maiores ou a emenda seja pior do que o soneto. Afinal, “é altamente provável que após a SARS-CoV-2 haja outra pandemia” (Peterson, 2020) e não mais podemos ficar indiferentes quando há reconhecidas vozes científicas que são silenciadas.