Já o trovador Quim Barreiros se questionava – e respondia, sabiamente, aliás, à sua própria questão: qual é o melhor dia para atentar, sem sofrer nenhum desgosto? É o 11 de Setembro, porque depois entra… Alto. Agora estou na dúvida. Neste seu imorredoiro tema, o poeta Quim Barreiros referia-se ao melhor dia para atentar, ou era ao melhor dia para casar? Eu sei que a canção tinha a ver com desastres mas, de momento, não me recordo sobre qual destes dois tipos de calamidades dissertava o genial bardo.

Bom, o que é relevante para o caso é que, 20 anos volvidos sobre o 11 de Setembro, o sucesso dos terroristas que derrubaram as Torres Gémeas ultrapassou as expectativas mais optimistas dos facínoras. E não foi por pouco, atenção. Foi por uma margem maior do que aquela pela qual o PS ganhará as próximas Autárquicas. Nunca os medievos islamitas sequer sonharam com tal impacto da chacina de 2001. E quem tem de ser parabenizado por esse sucesso, quem é? Somos todos nós. Ah, pois. É que tendo os autores do 11 de Setembro sido movidos pelo ódio ao Ocidente, duas décadas passadas, voilà, quase todos os ocidentais também odeiam o Ocidente. Portanto, parabéns a todos nós!

Tem sido uma linda caminhada, esta, a de deitarmos mão a todo o tipo de benefícios que nos trouxe o progresso alcançado pelo mundo Ocidental, para destruirmos todos os aspectos das nossas vidas tornados possíveis pelo progresso alcançado pelo mundo Ocidental. Começando logo pelo facto de, numa reacção imediata aos atentados perpetrados usando aeronaves, nunca mais ter sido possível embarcar num avião sem ser, praticamente, alvo da tão amiúde referida, no clássico dos anos 90, Beavis and Butt-Head, “full cavity search”.

Agora, que melhor cereja de retrocesso civilizacional podíamos desejar, no topo do bolo de autoflagelação que têm sido as duas últimas décadas, que este vasto rol de medidas, com um tão intenso aroma a autoritarismo, que tudo quanto é governo Ocidental tem tomado para, dizem, combater a COVID-19? Assim, de repente, não me ocorre melhor fruto drupáceo globoso da cerejeira para encimar a dita guloseima. Pois é. Ao contrário do que dizem as teorias da conspiração, foram mesmo os terroristas que mandaram abaixo as Torres Gémeas. Já o trabalho de implodir as bases da civilização mais próspera que o mundo alguma vez conheceu, esse, deixem connosco.

Entre nós, uma das mais diligentes operárias nesta tarefa de demolição é Joacine Katar Moreira. Há dias, a deputada não inscrita entregou no Parlamento um requerimento para retirar algumas pinturas do Salão Nobre da Assembleia da República, que retratam episódios da História de Portugal. Não sei se será a isto que se costuma apelidar de “tentativa de apagar a História”. Mas tenho uma dúvida. Até que ponto da História esta gente pretende apagar a História? É que, se ainda não tiverem fechado uma data, queria deixar uma sugestão. Eh pá, apaguem a História toda até às Eleições Legislativas de 2019, inclusive. Agradecido.

Já lá fora, no Canadá, algumas escolas procederam à queima de livros. Quando li a notícia pensei: espera, mas lá para os lados do Canadá não arrepia ninguém o facto da queima de livros ter sido uma actividade pela qual, nos anos 30 do século XX, ficaram famosos os nazis? Só depois realizei. Claro que arrepia. Daí queimarem mais livros. Para se aquecerem e passarem os arrepios. Só que, quanto mais livros queimam, mais arrepios sentem. E mais livros têm de queimar. Provocando ainda mais arrepios. E por aí adiante. Acho que é a isto que se costuma chamar “fascismozinho de rabo na boca”, não é?

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