Nunca o mundo esteve tão ligado e nunca o efeito borboleta se fez sentir tanto.

A internet. A massificação das viagens. Os smartphones. As redes sociais. As multinacionais. Os intercâmbios. Os vírus. As alterações climáticas. A perda da biodiversidade. A escassez de água. A desertificação. A poluição marítima. O paradoxo da melhoria de vida tem sido, até ao momento, a degradação dos ecossistemas e o esgotamento dos recursos. Segundo a WWF, os impactos económicos do declínio dos sistemas naturais poderão, até 2050, custar qualquer coisa como 10 triliões de dólares. Enquanto alguns governos e empresas vão assobiando para o lado, tentando amealhar os últimos trocos de um modelo de negócio moribundo, outros trouxeram a si a responsabilidade de investir no presente a olhar para o futuro, de ser a transformação que se quer ver. Segundo um estudo da Oxford Review of Economic Policy, assinado, entre outros, pelo Nobel da Economia Joseph Stiglitz e Nicholas Stern, especialista em economia das alterações climáticas, “os projetos que reduzem as emissões de gases de estufa, ao mesmo tempo que estimulam o crescimento económico, proporcionam ao Estado uma melhor remuneração de investimento a curto e longo prazo do que os planos de recuperação convencional”.

No Alentejo vinhateiro ,essa revolução calma começou a ser desenhada em 2015. O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo foi criado com o objetivo de trazer a produção sustentável, como um todo, à produção vitivinícola da região do Alentejo, ao trabalhar de forma transversal e integrada a atividade económica, o tecido laboral e social e a envolvente ambiental. Mais do que benefícios ecológicos, quisemos trazer à produção vitivinícola uma visão concertada, que pretende que os mais pequenos e os maiores produtores possam, durante muitos anos, continuar a produzir vinhos de excelente qualidade sem pôr em causa os recursos naturais, a sua viabilidade económica e influenciando, ainda, a mudança de hábitos de cada um dos colaboradores e respetivas famílias.

E a filosofia de sustentabilidade assenta que nem uma luva na adaptação a uma nova realidade como a que vivemos por estes dias, contribuindo para a melhoria do desempenho, a otimização de processos, o aumento da eficiência e a redução de custos operacionais, tão importante neste período difícil que atravessamos. Nunca é demais recordar que as melhores práticas sugeridas para o campo afetam diretamente a qualidade da uva produzida. Ao promover a redução do uso de pesticidas ou herbicidas, a recuperação do solo, os enrelvamentos, a gestão de serviços dos ecossistemas, a retenção de água, a qualidade do ar, tudo isso terá um impacto direto na qualidade da uva produzida. É inevitável. Isso, por defeito, irá promover um vinho de melhor qualidade. Além disso, aumentando as eficiências em relação aos processos da adega, estamos a contribuir para poupanças económicas que podem ser usadas para investir em melhores equipamentos, em mais tecnologia e em maior qualidade de produção para oferecer o melhor produto possível aos consumidores.

A sustentabilidade não é moda. É o novo paradigma do século XXI. Empresas e pessoas que não internalizem que o crescimento económico exponencial contínuo é impossível, que os recursos naturais não são infinitos e que temos apenas um planeta para viver, serão, gradual e progressivamente, tornadas obsoletas por uma espécie de seleção natural feita pelos consumidores e, possivelmente, através de novas políticas internacionais.

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