Na linha de partida dos que se propõem liderar o CDS há uma “presunção estultícia”, de que se fosse comigo, os resultados do CDS seriam bem diferentes. E desfilam personalidades.

Do liberal Adolfo Mesquita Nunes ao popular Nuno Melo; um e outro têm como denominador comum serem legatários do património de Paulo Portas, com estilos muito diferentes, mas qualquer contributo que pudessem trazer, a sua liderança não iria inverter o curso do estado de anemia em que o Partido se encontra, num claro divórcio entre o partido e o país, cujas causas são, a meu ver, outras.

No país, em geral, e na direita, em particular, há algo na esteira do célebre poema “país onde qualquer palerma diz/ a afastar do busílis o nariz / Não, não é para mim este país“, excerto de um poema de Alexandre O`Neill com o título “País Relativo”, que diz muito das “elites” que criticam quem governa, quem dirige e, em particular, sobre o CDS, pondo em causa a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos sempre com a “estultícia” de que fariam muito melhor!

Antes desta liderança, o CDS tinha uma das mais brilhantes presidentes da sua história, Assunção Cristas. Antes de chegar ao partido tinha um percurso na sociedade civil em termos de intervenção cívica, um doutoramento em Direito e tinha vida própria.

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Os ciclos na vida política são terríveis. Todos se recordarão do sucesso de Assunção Cristas em Lisboa, fazendo renascer uma memória pálida de um partido que já foi de autarcas, de Abecasis a Girão Pereira. Ou seja, de Lisboa a Aveiro, como uma espécie de fundações invisíveis de um partido democrata-cristão, conservador e liberal, que é uma instituição em Portugal.

Sobre ela, também se reconheceu a inteligência, integridade e, em muitos casos, o instinto tático e de oportunidade, típica da política mais imediata. Tudo isto, herdando uma liderança carismática e de poder, como foi o mandato de Paulo Portas, fazendo jus à tradição de que o CDS é um partido em que a figura do presidente é prevalente em relação às bases do partido.

Quem acha que o CDS perdeu votos mercê da sua liderança, continua a não querer encontrar as causas do apagamento. Eu gostaria de encontrar algumas.

Quatro notas históricas, que fazem a memória deste partido e que hoje têm apenas valor semântico, mas que deveriam provocar o Partido:

Primeira nota: o Prof Freitas do Amaral, citando a boa doutrina democrata-cristã, referia que as autarquias são para os partidos democratas-cristãos como os sindicatos são para os partidos de matriz socialista/social democrata.

Porém, interessa mais ao CDS conquistar o partido, é aí que se joga a escolha de deputados e é aí que começa o divórcio. Este argumento é injusto em relação a Adolfo Mesquita Nunes, autarca na Covilhã. Trata-se de um dos mais notáveis dirigentes do partido, mas a sua inteligência está confiscada por interesses de grupo, cujas forças estão mais apostadas em ganhar o congresso do que na reconciliação com os eleitores. Uma espécie de inteligência ao serviço da estupidez!

Segunda nota histórica: sempre existiu uma antinomia entre as lideranças do partido e as bases. E entre estes – os líderes – que se disputavam entre si, Freitas do Amaral referia-se a Lucas Pires como um lunático liberal e a Adriano Moreira como Ministro do Salazar, puxando a si os galões do democrata genuíno. E entre estes todos, apesar da qualidade individual reconhecida por todos, com o eleitorado. Recordo que foi no consulado de Adriano Moreira que o CDS se transformou no “Partido do Táxi”, aludindo aos quatro deputados que o CDS detinha na altura.

Não há que ter medo da divergência com o eleitorado. Foi a resistência cívica e intelectual dessa minoria de deputados que permitiu que o partido voltasse a crescer mais tarde.

Terceira nota histórica: Freitas do Amaral disse um dia que o CDS estaria consolidado quando um presidente da Juventude Centrista assumisse a liderança do partido. Professor de formação, a sua visão era uma aposta que o futuro seria dos jovens!

O facto é que as “juventudes partidárias” se tornaram numa máquina de delegados aos congressos e de profissionais da política. Os estatutos e os regulamentos eram os grandes Tratados, e a minudência da alínea entusiasmava os congressistas. Recordo bem um Congresso que opôs José Ribeiro e Castro a João Almeida, presidente da JP, e que a aparição deste último, foi considerada um tónico de “ideias”! O partido acreditava nisto e cada vez se afastava mais da realidade.

A liderança de José Ribeiro e Castro  foi “tropedeada” por um grupo que assaltou o partido.

A chegada ao poder é mais de um grupo de pessoas do que de ideias, ainda que seja justo referir o cunho de  Assunção Cristas, nomeadamente nas leis sobre o arrendamento.

Um partido que chegou de lambreta e se afeiçoou ao “Audi ministeriável”.

Uma espécie de máscara em que alguém mascarado de dinossauro tem que ser identificado pela sua voz de  adolescente e o congresso reconhece-o aos aplausos. E o país não percebe! Sem poder autárquico, sem estruturas locais que representem seja quem for a não ser os próprios, transigem em tudo para continuar no poder.

Finalmente, quarta nota histórica: o partido arrebata sempre o Congresso com a memória do Palácio de Cristal. O partido cercado foi essencial para a liberdade do regime. O CDS, como sempre, recupera a memória do Congresso de Cristal, vira-o do avesso e inverte os papéis, “cerca” o país e toma conta do “poder”. O poder do Portugal dos Pequeninos!

Os delegados são os que mais ordenam, de mão no ar ou de voto secreto.