Algum dia tinha de acontecer. Havia de chegar o momento dos portugueses discutirem, a sério, se querem insistir neste modelo socialista que nos chuta os traseiros até ao traseiro da Europa, ou se optam por políticas que dêem liberdade às pessoas e nos permitam aproximar dos países mais prósperos do velho continente. Tardou, mas esta discussão, crucial, está na ordem do dia! Mentira. Não está nada. O assunto na ordem do dia é, antes, a orientação sexual do hipotético candidato a eventual líder, quando a oportunidade porventura chegar, do quiçá ainda existente PSD, Paulo Rangel. Bem como, claro, os comentários feitos acerca do político Paulo Rangel ser homossexual, por banda de um Homo Magalhães político.

Para os menos familiarizados com estas questões da evolução humana, o Homo Magalhães é uma espécie de hominídeo, considerado – pelos mais optimistas – um antepassado dos humanos modernos. E o Homo Magalhães a que me refiro, neste caso que envolve Paulo Rangel é, nem mais nem menos, que o exemplar José Magalhães. O deputado do Partido Socialista que, de tão representativo da espécie Homo Magalhães, acaba por ter a honra de lhe emprestar o nome. Um pouco como, por exemplo, o Homo Heidelbergensis deve o seu nome ao local da descoberta dos seus primeiros fósseis, Heidelberg, na Alemanha.

Sobre a homossexualidade de Paulo Rangel, José Magalhães decidiu ensaiar umas insinuações javardolas sobre casas de bondage e sadomasoquismo em Bruxelas, para depois garantir, em forma de pseudo-piada, ter-se tratado de “uma extrapolação virtual hipotética sem destinatário”. E sobre isto, algumas considerações. Sou só eu, ou as insinuações javardolas de José Magalhães sobre casas de bondage e sadomasoquismo em Bruxelas demonstram um conhecimento profundo da existência deste tipo de estabelecimento na capital belga? É que, por exemplo, não faria sentido dizer algo do género: “Sim, sim, eu bem o vi a enfrascar-se em tudo o que é tasca de Riade.” Não, neste caso, José Magalhães parece saber, com exactidão, do que está a falar. Como demonstra o cuidado ao referir bondage e sadomasoquismo. Dá ideia de haver uma noção muito clara de como este, digamos, mercado está segmentado na cidade sede da União Europeia. Agora, como é que José Magalhães conhece, com tanto detalhe, o panorama bruxelense de práticas sexuais que aleijam é algo que me deixa intrigado. O mais provável, como é recorrente nestes casos, é ter sido um amigo a contar-lhe. Eh pá, foi um amigo.

Bom, uma coisa é certa. Os conservadores têm muito a mania de dizer que o socialismo é um produto de mentes infantis. Mas não é tal. Como fica provado por estas invectivas brejeiras de José Magalhães. Estas diatribes ordinarecas não podiam ser obra de uma mente socialista infantil. São, isso sim, produto de uma mente socialista pré-adolescente. Mente pré-adolescente que, no caso de José Magalhães, habita um quasi-septuagenário organismo. Que são os casos mais deprimentes, diga-se de passagem.

Mas pronto, o que fica para a história é que Paulo Rangel saiu do armário, talvez por haver, dentro do PSD, quem quisesse usar a sua homossexualidade para o pôr na prateleira. E prova-se, assim, que a política portuguesa é geminada com a indústria do mobiliário. Ou que é um catálogo da IKEA, não sei. Mas reparem. Agora, foi isto do Rangel sair do armário para fugir à prateleira. Mas o Salazar caiu da cadeira. O Mário Soares, às tantas, pôs o socialismo na gaveta. Mais recentemente, a menção a uma eventual liderança do PS deixou a Dra. Temido muito cómoda. E, na sua recente biografia, Francisco Pinto Balsemão fez a cama a Marcelo Rebelo de Sousa. Já a nós, comuns eleitores mortais, recomenda-se paciência de Cristo. Jesus Cristo que, vai-se a ver, era carpinteiro. Mic drop.

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