O PS é um partido muito descarado. Em 2011, um governo socialista levou Portugal à falência, pediu ajuda externa, mas teve, e tem, o descaramento de culpar o governo do PSD e do CDS pela vinda da troika. Os últimos governos socialistas não investiram nos hospitais públicos, mas o PS tem o descaramento de se apresentar como o grande defensor do SNS. O PS aliou-se à extrema esquerda para governar Portugal, mas tem o descaramento de acusar o PSD de se ter aliado à extrema direita nos Açores. Os exemplos de falta de vergonha do PS podiam encher muitas páginas.

Mas há uma questão onde os socialistas não conseguem ser descarados: no pedido de uma maioria absoluta aos portugueses. Querem a maioria absoluta, mas não conseguem pedi-la de uma forma clara. Arranjam fórmulas como uma “uma grande maioria”, uma “maioria estável”, “um governo para quatro anos”, mas dizer claramente que querem uma maioria absoluta, não o fazem. E não conseguem fazê-lo por uma razão muito simples: o PS sabe o que aconteceu na única vez que conquistou uma maioria absoluta. E também sabe que os portugueses não esqueceram Sócrates nem os seus governos.

Os portugueses sabem que foi o governo socialista de Sócrates que levou o país à falência, obrigando a quatro anos de austeridade. Os portugueses lembram-se dos abusos cometidos pelo primeiro governo de Sócrates, de maioria absoluta, contra o estado de direito e a liberdade de imprensa. Os portugueses não se esqueceram das mentiras sucessivas de Sócrates, do seu modo de vida milionário, e como um governo de esquerda foi até hoje o maior cúmplice do verdadeiro capitalismo selvagem, e das maiores falências, na história da democracia portuguesa. A acusação a Manuel Pinho na semana passada recorda aos portugueses que o PS não pode ter maioria absoluta. Como é possível num país onde o ordenado médio é pouco mais de mil euros por mês, um ministro receber às escondidas cerca de 15 mil euros mensais de um grupo económico privado? Para os socialistas, as maiorias absolutas são o caminho para o enriquecimento.

Mas o PS não mudou. É o mesmo partido do tempo de Sócrates, sem o antigo líder. O antigo número um foi-se embora, e subiu o antigo número dois, António Costa. No resto, são os mesmos que continuam no poder: muitos ministros foram os mesmos, muitos deputados são os mesmos, e os mesmos dirigentes. E se alguma dúvida houvesse, a notícia de que Edite Estrela poderá ser a candidata socialista à Presidência da Assembleia da República confirmou com toda a clareza a natureza “socrática” do actual PS. Depois de tudo o que aconteceu, o PS prepara-se para escolher para número dois da hierarquia do Estado, a maior aliada política de Sócrates. Aparentemente, a outra possibilidade seria Francisco Assis. Nem sequer está nas listas de deputados. Só um partido “socrático” é que poderia escolher Edite Estrela e ignorar Francisco Assis.

Cada vez que um dirigente do PS, na campanha eleitoral que aí vem, pedir uma “grande maioria”, lembrem-se do que aconteceu a Portugal quando Sócrates governou com maioria absoluta. E não tenham qualquer dúvida: o PS de Costa continua a ser o mesmo partido que foi liderado por Sócrates.

Aliás, há um teste para o PS. Veremos se algum dirigente socialista dirá aos portugueses o seguinte: “o PS merece maioria absoluta porque quando a teve com Sócrates, fez isto, e isto, e isto de bom para os portugueses.” Seria isso que um partido orgulhoso de um anterior governo de maioria absoluta faria. Mas o PS sabe que se dissesse isso, seria fatal para as suas aspirações eleitorais. Espero que os partidos de direita o digam.

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