Em Setembro de 2021, o Vice-Almirante Gouveia e Melo conseguiu terminar a sua missão na TASK Force com a maior taxa de pessoas vacinadas no mundo. Infelizmente, começa a ser tradição Portugal raramente se destacar pela positiva. Estamos habituados a bater no fundo em praticamente todos os rankings europeus, nos mais variados aspectos, especialmente quando comparados com países com características idênticas.

Como sabemos, o PS governa há 18 dos últimos 25 anos e não tem sido a meritocracia o principal critério para a atribuição de cargos. Aliás, muitos dos cargos são criados para dar um emprego na função pública a alguém e não porque sejam de facto necessários (só assim se pode justificar o maior governo de sempre, com secretários de Estado e ministros de utilidade duvidosa, alguns dos quais nunca ouvimos nem iremos ouvir falar).

Portanto, sendo a meritocracia um termo habitualmente desconhecido no léxico socialista e entre as trapalhadas quase diárias do governo, não admira que se queiram “apropriar” do Almirante Gouveia e Melo e indicá-lo como chefe supremo das Forças Armadas. Isto funciona como troféu de recordação de uma batalha bem-sucedida a que só ao próprio e à sua equipa devemos congratulações. Aquilo que, num primeiro olhar desatento, poderia sugerir esta indicação como um reconhecimento do trabalho dos militares não o é, uma vez que para Gouveia e Melo entrar alguém tem que sair e pedir a demissão do Chefe do Estado-Maior da Armada, neste caso o Almirante Mendes Calado, após uma missão bem-sucedida, não é propriamente um elogio.

Se nos recordarmos que Mendes Calado foi contra a reforma legislativa do governo para alterar a estrutura das Forças Armadas, torna-se muito tentador pedir a sua demissão e juntar o útil ao agradável: afastar um descontente e trazer o rosto do suposto sucesso do governo na luta contra a pandemia. Uma trapalhada socialista sem aval do Presidente da República, um novo atropelo ao funcionamento das instituições democráticas. Um dia normal em Portugal, com o executivo socialista na governação.

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As forças armadas são um dos pilares do Estado, responsável por defender Portugal de ameaças externas e internas. Infelizmente foram relegadas para segundo plano, na categoria de instituição de utilidade potencial, provavelmente porque historicamente têm sido os militares os responsáveis pelas grandes mudanças de regime em Portugal e neste sentido o melhor será cultivar e manter a imagem de alguma inutilidade da função militar. E com sucesso, diga-se.

Esta cultura antimilitar teve início após o 25 de novembro de 1975. O poder político apercebeu-se que estavam criadas as condições para “mandar os militares para os quartéis” ou haveria o risco de continuarmos com revoluções e contra-revoluções. É aprovada a Constituição (em 1976) onde isso fica estipulado mas mantendo o Conselho da Revolução (órgão existente à época constituído por militares) com as responsabilidades que são, na generalidade, as que o Tribunal Constitucional tem hoje.

Conseguiu-se tirar os militares da política (estatutariamente, estes devem ser apolíticos) mas deu-se-lhes a capacidade de vetar leis que “ferissem” o “espírito de Abril”,até 1982, altura em que também isso lhes foi retirado. Ou seja, gerou-se uma desconfiança mútua. Os políticos não parecem gostar das FA, as FA não confiam nos políticos e estes passam a mensagem para a população que as FA são inúteis. Por sua vez os jovens não se sentem atraídos para uma carreira que é olhada com desconfiança. Há ainda a agravante das condições internamente terem muitas falhas: vencimentos, infraestruturas, materiais, funções. O que acaba por ser um incentivo ao abandono das funções por parte dos jovens.

Chegámos ao ponto de nos quartéis haver falta de equipamentos básicos, como material de escritório e fardamento adequado. Se o governo descobriu agora a utilidade das suas forças armadas e quer mostrar-lhes reconhecimento talvez fosse boa ideia começar por aqui.

Não tem sido aproveitada toda a sua aptidão ao serviço nacional. É necessário um alargamento da sua missão que estes já provaram saber cumprir com rigor, independentemente das condições precárias que lhes são dadas.

Não seria este o melhor elogio ao seu serviço? A sua dignificação?

O PS descobriu a meritocracia, mas não sabe ou não lhe convém utilizá-la adequadamente. Mais uma vez tropeça nas suas (não tão) boas intenções.