“Ai aguenta, aguenta”. Foi nestes termos que Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI em 2012, colocou e respondeu à seguinte questão: aguentaria Portugal mais austeridade?

Naquele tempo a austeridade fez-se sentir sobretudo nos salários dos funcionários públicos e nas pensões mais elevadas, mas a verdade é que os serviços públicos aguentaram, o Serviço Nacional de Saúde, as escolas públicas, os tribunais e os restantes serviços públicos mantiveram-se a funcionar de forma aceitável, sem grandes sobressaltos, fruto da competência dos governantes e do investimento que, apesar de tudo, se foi conseguindo manter.

Aquilo a que assistimos hoje em dia é a uma austeridade que cada vez é mais difícil de esconder, sobretudo no Imposto sobre Produtos Petrolíferos, que penaliza todos por igual, indiscriminadamente, e no corte do investimento público em áreas essenciais para o normal funcionamento da sociedade, como a saúde e a educação. A esta austeridade envergonhada podemos acrescentar a incompetência e “cegueira ideológica” do governo, que priva aqueles que menos recursos têm de serviços de qualidade na saúde ou educação, apenas porque o prestador não é público. Podíamos pensar que, ao ver-se livre dos parceiros de esquerda e das suas exigências, o governo mudaria de atitude e aprovaria, por exemplo, algumas propostas da oposição na saúde, com o objectivo de colmatar as actuais falhas do SNS, mas infelizmente não é isso que se verifica.

O triste espectáculo que Pedro Nuno Santos e António Costa deram recentemente, a propósito do novo aeroporto de Lisboa, vem apenas provar que a crise que hoje vivemos não é apenas financeira, é sobretudo fruto de uma decadência moral objectiva, que impede esta maioria de governar de forma competente. Sejamos claros, estamos a falar do regular funcionamento das instituições e desde logo do governo, é impensável que um ministro emita um despacho nas costas de toda a gente, primeiro-ministro, oposição e Presidente da República incluídos, sobre um assunto tão sério e delicado como o novo aeroporto de Lisboa e que o primeiro-ministro lide com o assunto de forma tão leviana, considerando o episódio como um “erro” cometido pelo ministro que “não agiu de má-fé”, segundo António Costa. A pergunta que agora temos de fazer não é apenas se a sociedade aguenta mais austeridade, espelhada na degradação dos serviços públicos, mas sim, se as frágeis instituições do país aguentam esta forma de governar, estas constantes fugas para a frente, sem que o Presidente da República tenha uma palavra a dizer sobre o assunto.

O PS tem de perder porque o seu modelo de governação está esgotado, o actual governo já não pode responsabilizar o governo anterior nem os parceiros da “geringonça”. O PS com maioria absoluta já não tem os bode-expiatórios que tanto jeito fizeram no passado, e terá que assumir toda a responsabilidade sobre o resultado da sua governação, que se pode resumir em pobreza generalizada, degradação dos serviços públicos e fragilização das instituições.

A oposição tem assim um papel fundamental, perante o descalabro da governação socialista. O que se pede aos partidos da oposição é que tenham a maturidade necessária e que coloquem de lado os seus interesses particulares em nome de uma alternativa de governação para o país. Os portugueses não iriam compreender nem perdoar que, perante uma oportunidade de afastar o Partido Socialista do poder, a direita traçasse entre si “linhas vermelhas” que permitissem ao PS continuar a governar. O PS tem que perder, o PS tem de sair do poder, custe o que custar, porque simplesmente o país pode não aguentar mais.

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