É verdade. Foi assumido por António Costa na entrevista que deu à TVI, ou à CNN (também podem chamar o órgão oficial do PS, com o “comentador” Medina a comentar a entrevista do seu amigo Costa, enfim…). Sem deixar qualquer dúvida, Costa disse que, se o PS ganhar, ele continuará como primeiro ministro; se o PS perder, mas com uma maioria de esquerda no Parlamento, será Pedro Nuno Santos o próximo PM. Ou seja, uma geringonça II será liderada por PNS, provavelmente com o Bloco no governo.

Comparado com o PS, o PSD é um modelo de transparência. Realizou eleições internas com dois candidatos, ganhou Rio, e os portugueses sabem quem é o candidato do PSD a PM. Ao contrário do que se passa nos socialistas, nos sociais democratas não há candidatos escondidos para a chefia do governo.

A declaração de Costa mostra desde logo que o PS se julga o dono do regime e já nem o esconde. Estão absolutamente convencidos de que haverá uma maioria de esquerda e um novo governo socialista. Depois, de acordo com os resultados do PS, primeiro ou segundo, compete aos militantes socialistas escolher o PM. Eis o país que está na cabeça de Costa: mesmo que o PS perca as eleições, são os militantes socialistas que terão a última palavra na escolha do futuro PM.

As declarações de Costa também são uma chantagem evidente sobre os portugueses. Ou votam no PS para me terem como PM, ou terão uma alternativa pior: um governo de PNS com o Bloco. Eis a escolha “democrática” dos portugueses: governo socialista com Costa, ou governo socialista com PNS. O PS quer levar Portugal para um regime semelhante à da ditadura da I República: o PM pode mudar desde que o partido do governo não mude. Como mostrou Costa, o PS é hoje a principal ameaça à democracia pluralista em Portugal.

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Mas, apesar de ameaçar com a hipótese de o seu colega radical chegar a São Bento, Costa prefere isso a um governo moderado de Rui Rio. Esperemos que o líder do PSD perceba, finalmente, que os socialistas preferem sempre os seus, mesmo que sejam radicais, aos moderados do PSD. Governar tornou-se um modo de vida para o PS e uma carreira profissional para os socialistas. E vem aí muito dinheiro de Bruxelas. Na cabeça dos socialistas, este dinheiro não é para os portugueses, mas para ser gerido e distribuído pelo PS.

Há, no entanto, uma contradição entre o discurso actual de Costa e o que fez em 2015. O “Costa de 2021” diz aos portugueses que estão a votar no futuro PM. Mas o “Costa de 2015” mostrou que os portugueses não votam para PM mas para maiorias parlamentares. E, por causa do “Costa de 2015”, ninguém leva a sério o “Costa de 2021” quando ele pede uma maioria de 50 mais um. O “Costa de 2015” acabou com o voto útil à esquerda. Sobretudo depois de ter dito aos eleitores do Bloco e do PCP que se votarem nos seus partidos terão PNS como PM. Costa disse aos eleitores que oscilam entre o PS e o Bloco para escolherem entre ele e PNS. Quem é que acham que esses eleitores vão escolher?

Será que Costa sente que poderá ir para Bruxelas em Junho, para substituir Charles Michel? Só isso pode explicar que, na verdade, esteja a fazer campanha por PNS. Deveria ser ao contrário.