O cancro da cabeça e pescoço compreende os tumores que se desenvolvem na cavidade oral, laringe, orofaringe, nasofaringe, entre outros. A sua incidência aumenta com a idade, muitas vezes associado a hábitos tabágicos e/ou alcoólicos acentuados, outros por infecção de Vírus do Papiloma Humano (HPV). Independentemente da sua origem, trata-se de uma região no nosso corpo com delicadas e importantes funções de comunicação, expressão facial e alimentação para além da percepção de sentidos tão essenciais como o paladar, olfato e a visão.

A ocorrência de doença oncológica nesta região apresenta enormes desafios de tratamento, assim como no manuseamento dos efeitos secundários resultantes dos mesmos. A Radioterapia é um tratamento localizado que utiliza radiações ionizantes para eliminar as células cancerígenas e tem um importante papel na abordagem dos tumores de cabeça e pescoço, sobretudo nos casos em que a cirurgia é impossível ou acarreta morbilidades demasiado incapacitantes para os doentes. Nestes casos, a Radioterapia pode ser o tratamento mais indicado quando se pretende preservar a capacidade de falar, permitindo a preservação de órgão, sendo também utilizada como intuito adjuvante, isto é, com o objetivo de reduzir o risco de recidiva após a cirurgia.

Os recentes avanços tecnológicos na área da radioterapia permitiram uma maior precisão e controlo dos tratamentos que se refletiram num aumento de taxas de resposta e controlo local nas últimas décadas. Mas devido à grande sensibilidade desta região e à intensidade terapêutica, os tratamentos de radioterapia apresentam um enorme desafio para o doente: perda de paladar, secura da boca, dificuldade em engolir, entre outros, são alguns exemplos de efeitos secundários que ocorrem durante um tratamento de radioterapia de cabeça e pescoço. Daí a necessidade de evoluir para tratamentos com maior precisão, segurança e fiabilidade, que permitam identificar o alvo tumoral evitando os tecidos saudáveis, e assim, administrar tratamentos menos tóxicos.

Nas últimas décadas foram desenvolvidas técnicas de radioterapia que permitem modelar o feixe de radiação e, desta forma, adaptá-lo a cada tipo de tumor evitando danos nos tecidos saudáveis. Atualmente, a Radioterapia de Intensidade Modulada ou Arcoterapia (frequentemente denominada de IMRT ou VMAT) permite definir uma dose de radiação mais segura sobre o tumor e adequar pontos quentes de radiação nas regiões de maior atividade tumoral e maior homogeneidade de distribuição da radiação.

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A Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT), permite identificar e localizar os alvos terapêuticos e estruturas saudáveis antes de cada sessão de tratamento. Trata-se de um recurso indispensável para qualquer tratamento de Intensidade Modulada, uma vez que permite criar adaptabilidade do feixe de radiação ao longo das sessões de Radioterapia, e, com isto, reduzir falhas no alvo tumoral (geographical miss). Com o maior controlo e segurança na administração dos tratamentos de radioterapia através da Radioterapia Guiada por Imagem, é possível reduzir as margens de segurança necessárias aos alvos tumorais, permitindo assim uma menor área irradiada, e por consequência menor toxicidade dos tratamentos.

Um recente estudo em doentes com carcinoma de cabeça e pescoço documentou que a redução de margem (CTV-PTV) através da Radioterapia Guiada por Imagem, permitiu a redução da gravidade, frequência e duração das toxicidades decorrentes da radioterapia sem comprometer a sua eficácia terapêutica.

Apesar dos recursos tecnológicos disponíveis, o acompanhamento por uma equipa multidisciplinar com médicos, enfermeiros, nutricionistas e estomatologistas especializados na abordagem deste tipo de tumores é crucial para minimizar os efeitos secundários dos doentes. A vigilância e acompanhamento de lesões nas mucosas e pele, ao longo e depois dos tratamentos, permite adaptar e intervir atempadamente reduzindo a dor, melhorando o conforto e permitindo finalizar o tratamento com menos dificuldade e melhor qualidade de vida.