As probabilidades não jogavam a seu favor, o “ar do tempo” estava contra si, dizia-se que o “aparelho” não o queria e a maioria dos analistas e comentadores apostava na vitória do rival, mas no fim foi ele quem sorriu e abriu a garrafa de champanhe. Rui Rio fez aquilo que melhor sabe, ganhar eleições internas, e depois de “arrumar” Pedro Santana Lopes e Luís Montenegro era chegada a hora de Rangel, que até tinha conseguido uma vitória num conselho nacional do PSD que impediu o adiantamento do sufrágio interno, para no final ficar tudo na mesma. Rio é mesmo o candidato do PSD a primeiro-ministro.

A pergunta à qual Rio tem que responder é a seguinte, o que quer afinal o candidato do maior partido da oposição fazer com esta vitória? Rui Rio não poderia estar agora mais legitimado, os seus opositores internos tiveram as eleições que queriam mas obtiveram a derrota com que nunca sonharam, Rio é finalmente um líder incontestado e terá todas as condições, que é como quem diz, todo o partido unido à sua volta para disputar estas eleições. Voltando à pergunta, o que fazer com esta vitória?

Durante o tempo em que é líder do PSD, Rui Rio foi acusado de não promover uma verdadeira alternativa a António Costa e que estaria mais interessado em substituir, não o primeiro-ministro mas sim a sua base de apoio, BE e PCP. Na verdade, aquilo que para os seus opositores internos é indesculpável, a falta de acutilância e assertividade no papel de líder de oposição, é para Rio uma vantagem. Este sempre acreditou que o seu papel seria estar no local certo no momento certo, sem se desgastar com ataques que poderiam mais tarde voltar-se contra si, e assim chegaria a primeiro-ministro.

Ninguém se esquece que o PSD permitiu o fim dos debates quinzenais, e nessa altura todos se perguntaram como é que o maior partido da oposição se permite abdicar do confronto com o governo de 15 em 15 dias? Não seria a Assembleia da República o lugar por excelência do confronto político, onde Rio teria a oportunidade de debater directamente com António Costa? Rio defendeu a sua posição dizendo que o governo se deve focar no seu trabalho, que é governar, o que, segundo ele, não é compatível com os debates quinzenais. Na verdade, Rio prestou um péssimo favor à democracia, salvando o primeiro-ministro de prestar contas quinzenalmente no parlamento, mas fez um enorme favor a si próprio: Rio percebeu que era nos debates quinzenais que os pequenos partidos, IL e Chega, aproveitavam para passar a mensagem e confrontar o governo. Ora se Rio não escolheu essa estratégia, não podia ceder o palco a outros e, portanto, acabou com ele.

A estratégia de não confrontação não tem dado grandes frutos em eleições nacionais, Rio perdeu todas as eleições que disputou até agora, legislativas, europeias e autárquicas, porém a verdade é que o PSD é hoje um partido à sua imagem, incapaz de gerar a alternativa de que Portugal tanto precisa.

Perante este cenário, a responsabilidade dos partidos à direita do PSD aumenta substancialmente, ou seja, se para o PSD a melhor ideia é não atacar Costa, então caberá a CDS, Chega e IL esse papel, o de confrontar o primeiro-ministro com as suas opções e os seus falhanços e promover uma verdadeira alternativa ao poder socialista. O CDS de Francisco Rodrigues dos Santos sonha com uma coligação pré-eleitoral de forma a minimizar uma derrocada anunciada. Caberá assim à IL apresentar-se aos portugueses com protagonistas e um programa eleitoral mobilizadores, capaz de tirar Portugal do pântano socialista. Se não for agora, quando será?

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